A equipa de investigadores do grupo de Química Medicinal e Biológica da FCUP, liderada pela docente do Departamento de Química e Bioquímica, Fernanda Borges, irá, nos próximos três anos, participar no desenvolvimento de uma terapia promissora para o tratamento da doença de Machado-Joseph, uma doença genética rara e hereditária, que provoca a degeneração do sistema nervoso.

Esta patologia é causada por mutação genética no gene ATXN3 que leva a uma alteração da proteína ataxina-3, responsável pelos principais sintomas: dificuldade e perda dos movimentos, espasmos, desequilíbrio, dificuldade para falar, mastigar e mover os olhos. Estima-se que a doença de Machado-Joseph tenha uma prevalência a nível global entre 0,3 a 2 pessoas por cada 100 mil adultos, mas nos Açores esta afeta aproximadamente 1 em cada 140 adultos.

O trabalho de investigação surge no âmbito do projeto “New molecules harnessing targeted protein degradation for the treatment of Machado-Joseph disease”, recentemente selecionado para financiamento, na área das neurociências, pela Fundação “la Caixa” no âmbito da Convocatória CaixaResearch para a Investigação em Saúde 2024. Neste projeto serão desenvolvidas novas entidades químicas que vão promover a degradação seletiva da proteína ataxina-3 mutada, constituindo uma nova abordagem terapêutica para o tratamento da doença de Machado-Joseph.

Com financiamento de 1 milhão de euros, sendo que 425 mil serão para a FCUP, o projeto é liderado por Patrícia Maciel, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho e tem como investigadora principal na FCUP Fernanda Borges.

A docente Fernanda Borges, à esquerda na foto, esteve presente na cerimónia em que foram anunciados os projetos vencedores. Foto: DR

Os investigadores vão debruçar-se sobre a mutação da ataxina-3, que tende a agregar-se, levando a efeitos tóxicos nos neurónios e resultando na disfunção e na degradação das células neuronais. Assim, o grupo de investigação de Química Medicinal e Biológica da FCUP será responsável pelo desenvolvimento de ferramentas químicas inovadoras – designadas de novas modalidades químicas, capazes de eliminar de forma seletiva a proteína mutada que afeta as células nervosas.

“O nosso objetivo é desenvolver moléculas bifuncionais que se ligam tanto à proteína disfuncional quanto à maquinaria celular endógena responsável pela degradação e eliminação de proteínas”, começa por explicar Fernanda Borges. “Pretendemos manipular a maquinaria celular e promover a sua degradação seletiva”, concretiza a docente. Para além da docente da FCUP, participam os investigadores doutorados Daniel Chavarria, Lisa Sequeira e Fernando Cagide.

Para além deste projeto em que a FCUP participa, um projeto de investigação liderado pelo alumnus da FCUP, Tiago Beites, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistou também financiamento pela Convocatória CaixaResearch para a Investigação em Saúde 2024. Licenciado e doutorado em Biologia pela FCUP, Tiago Beites é líder de um consórcio focado no tratamento e erradicação da tuberculose

Sobre a Convocatória CaixaResearch para a Investigação em Saúde

Desde a sua criação em 2018, a Fundação “la Caixa” destinou 145.7 milhões de euros a 200 projetos de investigação inovadores com impacto social significativo. Destes, 63 foram liderados por grupos de investigação portugueses. Este é, atualmente, o concurso filantrópico mais importante para investigação das áreas da biomedicina e da saúde em Portugal e Espanha. Um painel de especialistas internacionais avalia meticulosamente as propostas de cada edição, realizando entrevistas com os candidatos pré-selecionados e selecionando os projetos mais promissores.

Para esta edição do concurso foram submetidas 580 propostas, tendo sido selecionados 29 projetos de Portugal e de Espanha, nove dos quais são portugueses. Serão financiados com um total de 25.7 milhões de euros. Este financiamento irá apoiar os estudos científicos ao longo dos próximos três anos