O que podem fazer drones e imagens de satélite pela adaptação às alterações climáticas? A ligação não é evidente, mas a verdade é que são a chave para um modelo computacional e, mais tarde, um mapa com a quantidade estimada de biomassa acima do solo e de carbono retido nos 14 principais sapais da Área de Cooperação Galiza-Norte de Portugal. O trabalho está a ser realizado no âmbito do projeto CAPTA: “Neutralidade Carbónica: o papel do Carbono Azul na costa de Portugal e da Galiza”, no qual participam investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
“Se estes ecossistemas, chamados de “ecossistemas de carbono azul”, em inglês, Blue Carbon Ecossistems (BCEs), forem destruídos por ação humana ou por ação natural, esse carbono vai ser todo libertado de volta para a atmosfera.” O alerta, suficiente para captar a nossa atenção, é de Manuel Meyer, estudante de doutoramento em Engenharia Geográfica da FCUP.
O investigador, que está a fazer o seu doutoramento no âmbito do CAPTA, reforça a importância de “mapear estas áreas e entender a quantidade de carbono que está fixada no solo”, pois “há estudos que indicam que Os”.
A FCUP é responsável pela coordenação da atividade do projeto centrada na avaliação dos fluxos de CO2 nas zonas costeiras, com especial atenção aos ecossistemas de carbono azul e ao seu papel no sequestro de carbono. O objetivo é fazer um mapeamento dos BCEs da costa da Galiza e Portugal com base na utilização de imagens de satélite e também uma estimativa dos reservatórios de carbono nestes locais.
No âmbito desta atividade, os investigadores do CAPTA, que envolve instituições de Portugal e Espanha, estiveram no passado mês de setembro, em trabalho de campo nos três dos maiores sapais da costa Norte portuguesa e da Galiza: o estuário do Rio Lima, em Viana do Castelo, e os sapais de Ramallosa e Betanzos, na Galiza.
Durante as campanhas, sobrevoaram cada uma destas áreas com um drone Mavic 3ME. “Após o voo, marcamos como uma antena GNSS (semelhante à de um telemóvel) os pontos de interesse para colheita, as coordenadas ficam registadas e depois recolhemos as amostras de biomassa acima do solo”, conta Manuel, que está a ser orientado pelo docente da FCUP, José Alberto Gonçalves e pela investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), Ana Bio.
Ao todo, marcaram e recolheram 275 amostras da vegetação local de cinco espécies diferentes: os Ervados ou juncais halófitos (Juncus maritimus), a gramínea rizomatosa (Spartina patens), a morraça (Spartina marítima), o caniço (Phragmites australis) e a verdoega-marinha (Halimione portulacoides). Estas amostras estão a ser processadas em laboratório, no CIIMAR, para o cálculo do seu peso seco.
Para fazer um mapa da distribuição dos BCEs, os investigadores estão a aplicar algoritmos de classificação a partir das imagens com diferentes bandas espectrais (Vermelho, Azul, Verde e Infravermelho) captadas pelo drone e estabelecer uma relação entre a intensidade dessas cores e o peso seco das amostras de plantas recolhidas.
“Assim conseguimos ligar um determinado lugar ao peso e à biomassa e, a partir disso, vamos criar um modelo para saber que quantidade de biomassa temos naquele sapal”, concretiza. Através dos valores com a quantidade de biomassa, os investigadores também conseguem quantificar o carbono presente nas plantas e nos sapais.
Dos drones às imagens de satélite
As imagens obtidas pelo drone durante a campanha vão ser comparadas com as imagens de satélite, de alta resolução, adquiridas pelos investigadores. “O nosso objetivo é “treinar” as imagens de satélite, a partir do algoritmo de classificação, para fazer uma estimativa de biomassa para os 11 sapais onde não foi realizado trabalho de campo”, esclarece o investigador.
No final, com estas tecnologias da área geoespacial, os investigadores terão acesso a um mapa de distribuição atualizado das espécies destes ecossistemas de carbono azul na costa portuguesa e da Galiza.
Deste projeto, coordenado pelo Centro Tecnológico do Mar, em Vigo, pretende-se que surjam propostas de ação para melhorar a sustentabilidade dos serviços ecossistémicos e a captura de CO2 na zona costeira.
Para além de apresentarem uma biodiversidade muito elevada, estes ecossistemas oferecem outros serviços, como a pesca ou a apanha de marisco, que já hoje são afetados pelas alterações climáticas. Por essa razão, os investigadores estão focados num trabalho conjunto para identificar ameaças, vulnerabilidades e riscos climáticos que estas áreas costeiras enfrentam e de estabelecer ações coordenadas para a sua preservação.
Para além da FCUP e do CIIMAR, participam também neste projeto investigadores do INESC TEC e da Universidade de Aveiro.
O Projeto CAPTA é um projeto inter-regional desenvolvido em conjunto com Espanha, financiado pelo Programa Interreg VI-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2021-2027. O POCTEP promove o desenvolvimento e a cooperação transfronteiriça ao longo da fronteira entre Espanha e Portugal, através de fundos FEDER. O projeto junta também investigadores do Instituto Tecnológico para el Control del Medio Marino, da Dirección General de Energías Renovables y Cambio Climático, Universidad de Vigo, Universidad de A Coruña, Instituto de Investigaciones Marinas-CSIC, Instituto Español de Oceanografía-CSIC (Centro Oceanográfico de A Coruña).