O Consórcio Euclid, do qual faz em parte investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e da FCUP, obteve múltiplos resultados científicos entusiasmantes, na sequência de deteção de mais 30 milhões de objetos celestes por parte do telescópio Euclid, uma autêntica “máquina de descobertas”.

Os resultados estão à vista em 34 artigos científicos publicados esta quarta-feira num número especial da revista Astronomy & Astrophysics e incluem, por exemplo, a descoberta de lentes gravitacionais, a exploração de enxames de galáxias e da teia cósmica, a caracterização de núcleos galácticos ativos (AGN) e quasares, estudos sobre a evolução e morfologia das galáxias, ou a identificação de numerosas galáxias anãs e transientes

Estas descobertas resultaram de um trabalho que contou com a participação do docente do Departamento de Física e Astronomia da FCUP, Jarle Brinchmann, que é também diretor do CAUP/IA e que ocupa uma posição de liderança nesta missão da Agência Espacial Europeia, e do estudante do Programa Doutoral em Astronomia da FCUP, Pedro Cunha.

Após uma primeira publicação de resultados e dados iniciais, em maio de 2024, o progresso do consórcio é agora demonstrado através de um segundo conjunto de publicações do Euclid, baseadas em novos dados denominados “Quick release 1” (Q1). Estes ilustram o que será amplamente analisado pelos cientistas do Consórcio Euclid, para mapear a estrutura em grande escala do Universo ao longo do tempo cósmico e investigar a natureza da matéria escura e da energia escura nos próximos anos. 

Para este trabalho tem sido fundamental o uso de ferramentas de inteligência artificial. Pedro Cunha tem vindo, ao longo do seu doutoramento, sob orientação dos investigadores do IA Jarle Brinchmann e Andrew Humphrey, a desenvolver e a validar técnicas avançadas de inteligência artificial para a identificação de diferentes tipos de galáxias e com este estudo que tem contribuído para os avanços do Consórcio Euclid. 

Pedro Cunha é um dos investigadores que integra o consórcio Euclid e tem vindo a desenvolver ferramentas de inteligência artificial que ajudam a identificar e classificar estas descobertas. Foto: DR

“Numa sociedade em constante inovação, onde a inteligência artificial é cada vez mais mencionada, também na astronomia nós tentamos tirar o máximo partido destas técnicas. São cruciais para a contínua análise dos dados recolhidos pelo telescópio Euclid, dado o volume de dados que são recolhidos diariamente”, explica o estudante que frequenta o 3º ano do Programa Doutoral em Astronomia. 

O trabalho de Pedro Cunha no âmbito deste consórcio tem sido o desenvolvimento de novas arquiteturas usando inteligência artificial, que podem ser utilizadas para tratamento de imagens e espetros ou para análise de dados. 

O investigador acrescenta ainda que a “quantidade de dados que está a ser obtida com o telescópio Euclid não só abre caminho a novas descobertas científicas, como apresenta desafios tecnológicos”. “Nesta fase, os dados recolhidos durante a Q1 permitem perceber tanto o potencial, como as limitações dos dados de forma a adaptarmos e calibrarmos os nossos modelos, abrindo caminho para novos estudos e descobertas”, esclarece. 

Como próximos passos neste trabalho, e tomando partido da excelente resolução do telescópio Euclid, irão ser feitos estudos sobre galáxias com núcleo ativo com obscuração, ou seja que estão envolvidas numa estrutura de poeira que limita a sua detecção no ótico, mas que as tornam visíveis no infravermelho. “Este tipo de estudos permite perceber como a interação entre galáxias, que podem levar à junção de duas ou mais galáxias, afetam a evolução da galáxia hospedeira destes buracos negros supermassivos”, remata o investigador.