Uma equipa de especialistas internacionais, entre os quais se encontram os docentes do Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Miguel Coimbra e Francesco Renna, publicou recentemente um focado no uso de IA para melhorar a qualidade da endoscopia gastrointestinal, fundamental no diagnóstico precoce de cancro digestivo.

Chama-se QUAIDE, ou Quality Assessment of pre-clinical AI studies in Diagnostic Endoscopy, e tem como objetivo assegurar que os estudos pré-clínicos de IA sejam conduzidos e relatados de maneira consistente e confiável, facilitando a integração da IA na prática clínica.

O estudo – publicado na revista de alto impacto Gut, que pertence à Sociedade Britânica de Gastroenterologia – envolveu também o IPO do PORTO e vários elementos da Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva, em colaboração com vários parceiros de áreas tecnológicas (engenharia, informática, inteligência artificial).

Esta equipa internacional de investigadores juntou-se para criar “recomendações para guiar os novos desenvolvimentos de algoritmos de IA para esta área, destacando a importância de normas rigorosas que garantam que os avanços em IA na endoscopia gastrointestinal possam ser aplicados de forma segura e eficaz em contextos clínicos”, assegura Miguel Coimbra, também investigador do INESC TEC.

Utilizou-se a metodologia Delphi para alcançar consenso sobre 18 recomendações-chave e, neste processo de discussão, adianta, “foi fundamental ter equipas com diferentes perfis técnicos, mais concretamente de perfil clínico (IPO Porto) e de perfil tecnológico (INESC TEC), para que as recomendações pudessem incorporar estas diferentes dimensões, aumentando o seu rigor e, acima de tudo, o seu potencial impacto”.

Fornecer descrições completas do processo, garantir diversidade na qualidade de dados, evitar o viés de seleção de pacientes, declarar os padrões de referência usados, a arquitetura do algoritmo, as implicações forças, limitações do sistema de AI são algumas dessas recomendações.

Miguel Coimbra e Francesco Renna estão entre os 32 especialistas internacionais que ajudaram a criar normas para melhorar a qualidade da endoscopia gastrointestinal, fundamental no diagnóstico precoce de cancro digestivo, através da IA.

Mário Dinis Ribeiro, coordenador da equipa do IPO-Porto que contribuiu para o estudo, explica que a endoscopia digestiva assume um papel fundamental no diagnóstico precoce de cancro digestivo e, por isso, na redução da mortalidade por esta doença. O especialista garante que “a IA tem um grande potencial para melhorar a qualidade da endoscopia digestiva, mas a sua adoção na prática clínica está limitada pela falta de instruções rigorosas e metodologias de desenvolvimento que garantam a generalização dos resultados obtidos nos estudos pré-clínicos”.

Para o especialista, “é fundamental para garantir que todos os novos desenvolvimentos de IA para endoscopia gastrointestinal possam ser desenhados e implementados de forma normalizada, credível e rigorosa, para chegarmos a tecnologias com potencial de impacto clínico e de adoção em realidade clínica”.

Tratam-se de “armas cruciais para gerirmos uma quantidade de doenças e complicações associadas ao trato gastrointestinal”, acrescenta, destacando os cancros associados a estas regiões anatómicas, que ocupam lugares cimeiros nas taxas de incidência e mortalidade, tais como o cancro gástrico, colorretal e esófago.