Foi com um conjunto de competências muito particular que o estudante de Doutoramento em Ciência, Tecnologia e Gestão do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Celso Domingos, que integra da equipa de Biodiversidade e Conservação do Mar Profundo e o programa Blue Young Talent do CIIMAR, partiu pelas 8h00 do dia 8 de janeiro da baía de Valparaíso com uma equipa internacional de investigadores a bordo do navio oceanográfico R/V Falkor (Too).

A principal área de interesse de Celso Domingos centra-se na taxonomia, sistemática, biogeografia e conservação de esponjas (Porifera). É nesta área que trabalha diariamente, utilizando abordagens integrativas que combinam dados morfológicos, moleculares e ecológicos com o objetivo de apoiar estratégias de conservação e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Foi neste contexto que embarcou para a campanha ao mar profundo do Pacífico Sul porque, “apesar da região ser relativamente bem conhecida e estudada, há poucas informações sobre as comunidades de esponjas. Até então, apenas duas espécies de esponjas eram conhecidas”, explica o investigador.

Os montes submarinos são ecossistemas oceânicos muito particulares, com elevados níveis de biodiversidade e endemismo. Os que foram visitados nesta campanha estão associados a enormes cadeias montanhosas submersas no oceano, cujos picos mais elevados sobressaem sob a forma de ilhas, como é o caso de Rapa Nui, Sala y Gómez, as ilhas Desventuradas ou o arquipélago de Juan Fernández. O grande objetivo desta campanha foi de estudar a biodiversidade e as características oceanográficas dos montes submarinos desta região, nomeadamente as 10 montanhas situadas na zona das cordilheiras submarinas de Juan Fernández, Salas y Gómez e Nazca, dentro do Parque Marinho Nazca Desventurada, a terceira maior Área Marinha Protegida do mundo.

A bordo do RV Falkor

A bordo do RV Falkor (too), Celso desempenha duas grandes tarefas. Em primeiro lugar, o investigador é responsável por identificar e registar todos os organismos bentónicos, nomeadamente as esponjas, durante os mergulhos com o ROV Subastian. Este veículo acionado remotamente fornece aos investigadores informação que pode ir até aos 4500 m de profundidade e está equipado com um conjunto de sensores e equipamento científico para apoiar a recolha de dados científicos. Durante os mergulhos, que podem durar entre 8h e as 10h, o ROV Subastian procede ainda à recolha de amostras dos organismos definidos pelos investigadores.

Além de fazer a identificação das esponjas, Celso Domingos está também encarregado de processar as amostras dessas esponjas após os mergulhos em que as identifica, separando pequenos fragmentos para fixação em métodos específicos destinados aos estudos de morfologia, genética, comunidade de bactérias e isótopos.

Decorrente do seu trabalho nesta campanha, o número de espécies de esponjas identificadas na região subiu de 2 para 40 espécies, sendo altamente provável que muitas delas sejam novas para a ciência.

“É interessante notar que algumas espécies são bastante abundantes na região, e em alguns casos podem atingir facilmente mais de 1 metro de altura”, revela Celso Domingos. “Algumas dessas espécies parecem desempenhar um papel fundamental na estruturação das comunidades locais, e o estudo destes animais certamente contribuirá para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a proteção dos ecossistemas marinhos na região” acrescenta.

Descobertas de peso

Uma aventura deste tipo está recheada de revelações uma vez que, de cada vez que o ROV desce às profundezas dos montes submarinos ao largo da costa chilena, é provável encontrar locais nunca antes vistos. Celso destaca uma das descobertas mais marcantes da campanha no momento em que exploravam as profundezas do Monte Submarino “Solito” dentro do Parque Marinho Nazca Desventuradas.

“Fomos surpreendidos por uma cena deslumbrante: uma impressionante agregação de esponjas e corais desdobrou-se diante de nós. Esta agregação de esponjas e corais é crucial para a saúde e a manutenção da biodiversidade local, servindo de habitat para uma miríade de criaturas marinhas, desde pequenos peixes até crustáceos e moluscos. Esses organismos encontram abrigo, alimento e locais de reprodução dentro das estruturas complexas formadas por esponjas e corais, criando assim um ecossistema dinâmico e interligado.” Aquilo que aos olhos destreinados pode simplesmente parecer uma paisagem de tirar o fôlego, além de estar preenchida de inúmeros tesouros de biodiversidade é também uma “constatação de importância vital para a elaboração de políticas públicas e para a elaboração de uma estratégia de proteção do parque marinho “Nazca Desventuradas”, esclarece Celso Domingos.

 

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