A estudante do Programa Doutoral em Biotecnologia Marinha e Aquacultura da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), Janaina Morone, é a primeira autora de um estudo que revela que os extratos ricos em carotenoides originários de cianobactérias marinhas são fortes ingredientes anti-inflamatórios para a pele, com aplicações dermatológicas e cosméticas de origem natural, sustentável e vegan.
O estudo intitulado “Carotenoids from cyanobacteria modulate iNOS and inhibit the production of inflammatory mediators: Promising agents for the treatment of inflammatory conditions” foi realizado no contexto do trabalho de doutoramento de Janaina que integra o grupo de investigação em Biotecnologia azul, saúde e ambiente do CIIMAR .
Este trabalho, desenvolvido por uma equipa de investigadores do CIIMAR e da FCUP, entre os quais também se encontra o docente do Departamento de Biologia, Vítor Vasconcelos, demonstra que o perfil de carotenoides das cianobactérias é eficiente na redução da produção de mediadores da resposta inflamatória e enfatiza o elevado valor para aplicação biotecnológica de extratos de cianobactérias ricos em carotenoides na indústria farmacêutica e cosmética.
A inflamação é um processo biológico através do qual o nosso organismo procura responder a estímulos nocivos, pela ação direta do sistema imunitário, enzimas e mediadores inflamatórios. A inflamação da pele caracteriza-se habitualmente por vermelhidão, inchaço, comichão e muitas vezes rash cutâneo, comuns nos diferentes tipos de dermatites, acne inflamatório e rosácea que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. O controlo do processo inflamatório da pele é um desafio crescente para a indústria cosmética que procura responder às necessidades de saúde e bem-estar assim como a questões estéticas e de autoestima, cada vez mais importantes na sociedade.
Esta crescente procura de produtos cosméticos para o tratamento de condições como a rosácea e o acne inflamatório, e de medicamentos de uso tópico para o alívio e tratamento das mais diversas manifestações de inflamação cutânea, tem motivado a comunidade científica para a procura de ingredientes alternativos, de origem natural, eficazes, inovadores e ao mesmo tempo sustentáveis.
Um biorecurso inovador e sustentável
Quando se trata de extratos inovadores, eficazes com origem natural e sustentável, “as cianobactérias cumprem todos estes requisitos enquanto biorrecurso, o que nos motivou a explorar a sua capacidade de atuar na área da inflamação” refere Janaina Morone. Foi neste contexto que a estudante decidiu explorar diferentes estirpes de cianobactérias originárias do arquipélago de Cabo Verde para aplicação cosmética.
Segundo o estudo publicado na revista Algal Research, estas cianobactérias apresentam um perfil de carotenoides muito caraterístico, dominado pelas já conhecidas zeaxantina e pelo β-caroteno, que conferem aos seus extratos a capacidade de modular o processo inflamatório a dois níveis: na resolução e na prevenção da inflamação. Assim, para além de serem capazes de resolver um estado de inflamação já instalado através do sequestro de radicais livres e da inibição de enzimas responsáveis pela produção de mediadores inflamatórios, estes compostos são capazes de atuar na origem do problema, inibindo a expressão de enzimas responsáveis pela produção de óxido nítrico, um mediador chave no processo inflamatório.