Em pleno mês do Magusto, uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável traz boas notícias para o futuro dos castanheiros: acabam de comprovar que a presença da relação simbiótica entre fungos e a raiz desta planta (micorrização) a torna mais resiliente aos efeitos das alterações climáticas. 

Embora sejam bem conhecidos os benefícios desta estratégia no aumento da absorção de água e de nutrientes pelas plantas e na mitigação do stress, este é um dos primeiros estudos a abordar esta questão numa situação de exposição a elevadas temperaturas e falta de água.

Os resultados surgem no âmbito do projeto pioneiro CASTANHEIRO vs ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – o papel do stress priming e da micorrização (CC&NUTS)”, liderado pela equipa da FCUP e financiado pelo Programa Promove, uma iniciativa do BPI | Fundação “la Caixa” e da FCT. 

“Após cerca de dois anos de trabalho, comprovamos que a presença de fungos micorrízicos permite aumentar a tolerância de castanheiros jovens à falta de água e ao calor, ao modular várias respostas fisiológicas, relacionadas com a fotossíntese e com vias de defesa da planta”, começa por explicar Filipa Sousa, estudante de doutoramento do Plant Stress lab (GreenUPorto/FCUP), cuja tese se integra no âmbito deste projeto coordenado pela docente Fernanda Fidalgo.

Para este estudo, cujos resultados foram recentemente publicados na revista científica Plant Physiology and Biochemistry, os investigadores utilizaram plantas micropropagadas de castanheiro micorrizadas com um fungo autóctone (Paxillus involutus) oriundo de soutos portugueses. 

De modo a mimetizar condições semelhantes às que ocorrem no campo, as plantas foram expostas durante 21 dias, a elevadas temperaturas, de 42 ºC, em períodos de 4 horas diárias, e à secura (suspensão da rega até se atingir 25% da capacidade de retenção de água do substrato), para avaliação das respostas fisiológicas e bioquímicas, bem como da atividade fotossintética. 

Comparativamente a plantas não inoculadas com o fungo micorrízico, as plantas micorrizadas, quando sujeitas à exposição a altas temperaturas e falta de água, foram capazes de ativar mecanismos de defesa e de manter um estado hídrico adequado, permitindo uma maior produção de fotoassimilados, com consequências positivas no crescimento.

Uma outra estratégia em estudo: o stress priming 

O trabalho está a ser realizado no Plant Stress Lab, um laboratório de investigação da FCUP e do GreenUPorto. Foto: SIC.FCUP

Atualmente encontram-se em curso novos ensaios com o objetivo de estudar, também pela primeira vez em castanheiro, a eficiência de uma outra estratégia: o stress priming

“O conceito por detrás do stress priming baseia-se na ativação da memória vegetal, de modo a que a planta, aquando de uma nova exposição a condições desfavoráveis, consiga desencadear, de forma mais precoce, mecanismos de defesa”, aponta Cristiano Soares, investigador do projeto. 

Para preparar o castanheiro para condições de stress, que se preveem ainda mais severas no futuro, os investigadores estão igualmente a avaliar se a pré-exposição de castanheiros jovens a condições de secura moderada pode estimular mecanismos de memória, que possam mais tarde resultar em ajustes metabólicos e bioquímicos mais eficientes. 

“Embora preliminares, os resultados mais recentes sugerem que, efetivamente, os castanheiros são capazes de “recordar” eventos passados, permitindo-lhes reagir, mais prontamente, às condições de secura impostas”, comenta Fernanda Fidalgo

Todo este conhecimento, que está a ser gerado em contexto de laboratório, será validado em condições de campo ao longo do projeto.

Este projeto, que arrancou em 2023, surge alinhado com os interesses de investigação de um consórcio multidisciplinar, que integra ainda investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), bem como a empresa Deifil – Green Biotechnology.

Da equipa da FCUP/GreenUPorto fazem ainda parte os investigadores Bruno Sousa, Mafalda Pinto, Maria Martins, Sofia Spormann e Pedro Mateus.