Bárbara tem 20 anos e tem o sonho de trabalhar na Polícia Judiciária a fazer investigação criminal e ciência forense. Os primeiros passos para este objetivo começam em Bioquímica na FCUP, um percurso que tem conciliado com a sua paixão por cuidar dos outros e pelo voluntariado.
Está na Comissão Nacional da U.Dream, uma associação de liderança social para jovens que pretende resolver os problemas da comunidade e ajuda estudantes e futuros estudantes a dar o salto das suas vidas e a ver o mundo com outro olhar. Com uma vida académica dinâmica, trabalha ainda aos fins de semana num parque de trampolins e é um dos mais recentes membros da equipa de Basquetebol da Associação de Estudantes.
No Dia Nacional do Estudante, assinalado a 24 de março, damos a conhecer percursos e histórias de estudantes da FCUP, diferentes realidades e perspetivas.
Porque decidiste estudar na FCUP? E o que motivou a escolha do teu curso?
Não me via a fazer outra coisa, senão estar numa área de ciências. Sempre gostei muito da parte de investigação, mas mais da investigação policial. Escolhi Bioquímica porque vi que era um curso com várias saídas e que me ia permitir seguir depois um mestrado em investigação criminal e forense. Bioquímica na FCUP foi a minha primeira opção e fiquei.
Como e quando é que o voluntariado surgiu na tua vida?
Sempre senti vontade de fazer voluntariado e tenho-o feito desde a escola, através da participação em campanhas do Banco Alimentar em supermercados. Sempre fui uma pessoa muito empática, gosto muito de ajudar os outros e o voluntariado faz sentido para mim. Na faculdade, conheci a U.Dream, uma associação de liderança social e surgiu uma oportunidade no primeiro semestre do 2º ano. Tinha um amigo em comum nessa associação, decidi fazer o programa e atualmente faço parte da Comissão Nacional da U.Dream.
Sinto que agora estou muito mais atenta ao que se passa à minha volta. Há vários problemas que conseguimos mudar e tornar o mundo melhor. O voluntariado começa muitas vezes pela nossa comunidade e por ajudar os outros.
Que tipo de projetos tens desenvolvido e como sentes que tens feito a diferença?
Pertenço à comissão Nacional, cujo objetivo é manter a associação a funcionar. Por exemplo, estamos presentes em vários eventos de recrutamento para a U.Dream, em que incentivamos os estudantes a juntar-se ao programa. Já consegui trazer para a U.Dream amigos meus. Participamos em feiras de voluntariado, em reuniões do Conselho Municipal da Juventude, da Câmara Municipal do Porto, e estivemos, recentemente, na Qualifica. O programa da U.Dream consiste num semestre de quatro horas semanais com formações, que podem ser online, de liderança e de desenvolvimento pessoal que nos permitem perceber os problemas e como os podemos resolver. Depois, temos o voluntariado em si com associações parceiras, que trabalham com animais, idosos, sem abrigo, crianças, pessoas com deficiência, entre outros.
Para além da U.Dream, também sou coordenadora de programas na Associação Just a Change, de renovação de casas.

Foto: DR
Quando fizeste o programa, que associação escolheste?
Foi o Postigo do Sol, uma associação no Porto que acolhe crianças (meninas) com algum tipo de deficiência intelectual ou física, que foram excluídas da família ou que apenas têm contacto espontâneo com ela. Ia semanalmente ao final do dia e conversava com elas, fazia atividades, jogos, pinturas, pulseiras, etc. Ficaram minhas amigas, seguimo-nos nas redes sociais, e há dias encontrei uma das meninas que tinha estagiado num restaurante e ficou lá a trabalhar que perguntou quando é que nós (voluntárias) voltávamos. Acho que elas gostavam porque era uma forma delas esquecerem porque é que estavam ali na instituição. Agora já não consigo ir porque quando terminei o voluntariado comecei a trabalhar, mas quero voltar lá assim que puder.
Porque é que escolheste esta associação?
Chamou-me a atenção o facto de serem só uma associação de meninas (e por isso só podiam receber voluntárias) e que por terem uma deficiência foram excluídas da sociedade.
Em que é que o voluntariado ajuda na tua vida?
Traz muito mais sensibilidade para aquilo que está ao meu redor. Estou muito mais atenta a tudo. Se conseguir fazer a mínima diferença, já é uma diferença. Vejo tudo de forma diferente.
Como concilias a tua vida académica com o voluntariado?
No programa, o maior medo das pessoas é a falta de tempo para conciliar tudo: mas são apenas 4 horas semanais e as formações são online e ao final do dia. No caso do voluntariado, podem escolher os seus horários. É muito fácil de conciliar. No entanto, quando entrei na U.Dream comecei a trabalhar – tive de conciliar faculdade, U.Dream e trabalho e senti muita diferença nesse semestre.
Mas a verdade é que se não estivesse na U.Dream e a trabalhar, não seria a mesma pessoa. Se não fizer o curso em 3 anos, faço em mais tempo. Este ano acrescentamos também na U.Dream a continuidade das ações de voluntariado por parte de quem está na Comissão Nacional. Iremos concentrar-nos nas áreas que têm menos voluntários: dos idosos e das pessoas com deficiência.
Em que estás a trabalhar?
Trabalho em part-time num parque de trampolins, sobretudo à sexta-feira e ao fim de semana. Sinto que me ajuda a gerir melhor o tempo e a lidar com situações de stress e com muitas pessoas diferentes. Os dias que tinha para estudar deixaram de existir e tive de aprender a estudar nos tempos livres durante a semana. Trabalho desde outubro de 2023. Tem partes de muito stress porque temos de cuidar das pessoas que estão lá dentro. A mim liberta-me muito da pressão académica: aqui na FCUP sinto que tenho de estudar e passar; lá, ao fim de semana, tenho de me abstrair mesmo que tenha teste na semana seguinte.
Porque achas que é importante fazer voluntariado?
O voluntariado muda uma pessoa. Antes passava por um sem abrigo na rua e dava uma moeda, mas não sabia qual seria o uso da moeda. Agora faço uma pergunta diferente: quer comer alguma coisa? Eu pago. A pessoa pode dizer que não quer, mas aí já fiz a minha parte. Não podemos ajudar quem não quer ser ajudado. O voluntariado ensina-nos que entramos na vida da pessoa sem ela nos pedir e que por isso temos de aprender a lidar com o que ela nos vai dar também. Cresci muito em termos pessoais.

Foto: DR
Quais são os teus objetivos para o futuro?
O voluntariado está muito intrínseco em mim. Nas ações do dia a dia, com as minhas atitudes, a entrar na vida das pessoas que não me pediram para ajudar, já faço voluntariado. Uma vez estava a chegar a casa e estava a chover torrencialmente e passei por um senhor que estava sem guarda-chuva, numa paragem que não era coberta, à espera do autocarro. Voltei para trás e abriguei-o com o meu guarda-chuva e disse-lhe que estava à espera do 506. Estive com ele 10 minutos, conversamos até chegar o autocarro e fui embora. Voluntariado é cuidar dos outros! Quero fazer também voluntariado internacional no próximo ano com uma das minhas melhores amigas que conheci na UDream.
Em termos académicos e profissionais. o mestrado que quero fazer – na área das ciências forenses – só abre nos anos ímpares e, como não vou acabar este ano o curso, vou continuar a trabalhar e na UDream, e a fazer unidades curriculares singulares do mestrado se conseguir para não perder o ritmo e depois inscrevo-me. No futuro, quero candidatar-me à Polícia Judiciária para fazer investigação criminal.
Para ti, ser estudante da FCUP é…
É poder conhecer muitas pessoas diferentes de cursos muito diversos e poder viver uma boa vida académica, com muita dinâmica e equilíbrio. Não falo só do estudo, mas também dos convívios, de festas, a parte boémia da vida académica que faz com que a faculdade não seja aquele sítio em que pensamos: “não quero ir”. A convivência que a FCUP traz, os eventos, as palestras, permite-nos divertir, aprender, conviver!