A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) é uma das instituições parceiras da exposição “Mais do que casas: Como vamos habitar em abril de 2074?“, organizada pela Faculdade de Arquitetura da U.Porto (FAUP), em parceria com o MUDE – Museu do Design, e que apresenta os trabalhos produzidos no ano letivo de 2023/2024 pelos estudantes e docentes de várias faculdades de Arquitetura, Arquitetura Paisagista e Belas Artes em Portugal.
Patente no MUDE, em Lisboa, desde o passado dia 27 de setembro, a iniciativa, que surge no âmbito das comemorações do 50 anos do 25 de Abril, apresenta dois módulos desenvolvidos por estudantes de licenciatura e de mestrado em Arquitetura Paisagista da FCUP.
O objetivo da Faculdade de Ciências é, através deles, “promover uma reflexão sobre a importância dos espaços verdes no ato de habitar o bairro e a cidade”, destaca Isabel Silva, docente da FCUP que coordenou a participação da faculdade nesta iniciativa.
“Nos últimos anos, o papel dos espaços verdes urbanos tem vindo a revelar-se essencial na resolução de muitos problemas que afetam as cidades contemporâneas. Entre outros serviços, eles são essenciais na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, no bem-estar físico e psicológico das populações, na coesão e inclusão social, e na promoção da democracia”, pode também ler-se na página da exposição, em resposta à chamada de ideias que foi proposta a nível nacional.
No texto que contextualiza a participação da FCUP, lê-se também que o acesso aos benefícios dos espaços verdes “não é igual para todos, gerando-se, muitas vezes, situações de injustiça ambiental e gentrificação verde”. A crescente desigualdade de rendimentos que se verifica no mundo atual, também nos países mais desenvolvidos, e que tem efeitos no acesso a uma habitação de qualidade, gera igualmente grandes desigualdades no acesso a espaços verdes de qualidade.
Neste âmbito, surgiram e estão em exposição os módulos “Plantar o Bairro” e “Plantar a Cidade“.
Plantar o Bairro
No módulo “Plantar o Bairro”, os estudantes da unidade curricular Projeto de Espaços Exteriores I, do 3º ano da licenciatura em Arquitetura Paisagista, sob orientação da docente da FCUP, Isabel Silva e do docente Luís Guedes de Carvalho, apresentam uma proposta de requalificação dos espaços exteriores do Bairro da Biquinha, localizado em Matosinhos, maioritariamente impermeabilizado e dominado pelo automóvel.
Os estudantes desenvolveram uma proposta para maximizar a qualidade de vida da população residente e contribuir para uma cidade mais resiliente às alterações climáticas e à gentrificação, um processo de deslocação dos residentes com menor poder económico para locais mais desfavorecidos ambientalmente. Propuseram, assim, através de uma maquete, a “despavimentação” do Bairro da Biquinha, reduzindo o espaço impermeável dedicado ao automóvel e aumentando o espaço permeável plantado dedicado ao recreio, à biodiversidade, ao sequestro de carbono, à infiltração e retenção das águas pluviais, e à mitigação das temperaturas extremas.
Plantar a Cidade
No que diz respeito ao módulo “Plantar a Cidade: Desenhar a Estrutura Verde Urbana: Conectividade Ecológica e Social na cidade do Porto”, o trabalho, sob a coordenação da professora da FCUP, Cláudia Fernandes, e também dos docentes Catarina Teixeira e Paulo Farinha Marques, os estudantes do 2º ano do mestrado da FCUP, no âmbito da UC “Projeto de Estruturas Verdes Urbanas”, apresentaram uma proposta para promover conectividade ecológica e social na cidade do Porto. Numa primeira fase, fizeram uma análise meticulosa da estrutura verde do Porto, identificando e mapeando os seus espaços verdes e identificando áreas de concentração e áreas de carência.
Através deste mapeamento, traçaram uma rede conectada de espaços verdes e identificaram as lacunas na conexão verde existente e áreas potenciais para fortalecer a conectividade, com particular atenção nos espaços de interesse público, refletindo a nível ecológico, estético, histórico e social.
Já numa segunda fase, desenharam diversos tipos de espaços verdes de conectividade, com um nível de pormenorização de estudo prévio, abordando as falhas identificadas e contribuindo para o continuum naturale da estrutura verde urbana, favorecendo desta forma a biodiversidade e a integração social na cidade.
Sobre a exposição
Com cerca de 60 propostas desenvolvidas por cerca de 1751 estudantes e 281 docentes ao longo do ano letivo 2023/2024, a exposição, com curadoria dos arquitetos Teresa Novais e Luís Tavares Pereira, espelha a capacidade de a academia contribuir com matéria que informa, questiona e labora para a construção de um país melhor.
A exposição organiza-se em torno de oito núcleos, correspondentes a oito questões: Como pensar a cidade inclusiva? Como habitar territórios de baixa densidade? Como desbloquear inovação de modelos de habitação? Como dar resposta à crise da habitação? Como promover habitação sustentável? Como aplicar a participação dos cidadãos? Como adaptar a cidade às alterações climáticas? Como operacionalizar os avanços tecnológicos?
“Mais do que Casas: Como vamos habitar em abril 2074?” ficará patente ao público até 15 de janeiro de 2025, no MUDE.