Por proposta da Faculdade de Ciências (FCUP), a Universidade do Porto vai atribuir, no próximo dia 28 de maio, o Doutoramento Honoris Causa a Anne L’Huillier, Professora na área da Física Atómica na Universidade de Lund, que, em 2023, conquistou o Prémio Nobel da Física, pelo estudo de eletrões com “impulsos de luz extremamente curtos”.
Pioneira na área da Física dos atossegundos, tem, há mais de 10 anos, uma estreita colaboração científica e tecnológica com a U.Porto, em particular com a FCUP, sendo um dos motivos desta homenagem que se soma a um currículo de excelência.
A relação com a U.Porto começou com o primeiro doutoramento em cotutela entre a Universidade do Porto e a Universidade de Lund e o primeiro com estas características realizado por Lund desde a sua fundação em 1666. A tese de doutoramento em Física de Miguel Miranda, então estudante da FCUP, foi orientada por Anne L’Huillier e por Helder Crespo e estabeleceu as bases para a criação, em 2013, da spin-off de alta tecnologia Sphere Ultrafast Photonics, sediada na Faculdade de Ciências e múltiplas vezes distinguida.
Caberá precisamente a Helder Crespo, docente do Departamento de Física e Astronomia da FCUP e um dos fundadores desta spin-off em conjunto com a homenageada, o Elogio de Anne L’Huillier na cerimónia que irá decorrer a partir das 15h30, no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto.
Um percurso de excelência até à conquista do Nobel
Nascida em Paris a 16 de agosto de 1958, Anne L’Huillier tem uma carreira de destaque na área da Física. Após estudar Matemática e Física na École Normale Supérieure, Fontenay-aux-Roses, França, completou, em 1986, o doutoramento em Ciências Físicas na Université Pierre et Marie Curie e integrou o Commissariat à l’énergie atomique et aux énergies alternatives (CEA Paris-Saclay), onde iniciou o seu percurso como cientista.
No ano seguinte, descobriu que, quando um impulso laser infravermelho de alta intensidade incide num gás nobre, são emitidos muitos harmónicos da luz do laser inicial. Cada harmónico consiste numa nova onda de luz com uma frequência que é um múltiplo da frequência original do laser. O laser fornece energia adicional aos eletrões do gás, a qual é depois emitida na forma de luz de alta energia, podendo inclusivamente chegar aos raios-X. Anne L’Huillier continuou a explorar este novo fenómeno, estabelecendo as bases para a criação e avanços subsequentes nos impulsos de atossegundos.
Depois de passar por várias instituições na Suécia e nos Estados Unidos, chega, em 1995, à Universidade de Lund na Suécia. Nesta universidade, aperfeiçoou a fonte de impulsos de luz de atossegundos e ilustrou o movimento dos eletrões em átomos e moléculas em tempo real. Estudou, com sucesso, o efeito fotoelétrico em tempo real, teorizado por Albert Einstein em 1905, envolvendo a absorção de um quanta de luz (fotão) e a emissão – quase – simultânea de um electrão.
Este seu trabalho tem sido, aliás, reconhecido com a atribuição de inúmeras distinções, entre as quais se destacam a conquista do prémio EPS-QEOD Quantum Electronics and Optics Prize em 2019, do prémio Wolf de Física e do prémio BBVA Frontiers of Knowledge, em conjunto com Ferenc Krausz e Paul Corkum, ambos em 2022.
O apogeu de todos estes prémios foi o Nobel da Física de 2023, partilhado com Pierre Agostini e Ferenc Krausz, pelo estudo de eletrões com “impulsos de luz de atossegundos”. Com os seus resultados, destacou o júri do Prémio Nobel, “deu à humanidade novas ferramentas para explorar o mundo dos eletrões dentro dos átomos e moléculas”, através da criação de “impulsos de luz extremamente curtos que podem ser usados para medir os processos rápidos através dos quais os eletrões se movem ou mudam de energia”, processos extremamente rápidos, e até então impossíveis de observar.
No âmbito da investigação em projetos europeus e da sua colaboração com a Sphere Ultrafast Photonics, conquistou ainda três Advanced Grants do European Research Council (ERC), em 2014, 2018 e 2023, três projetos Proof-of-Concept do ERC, contribuiu para duas patentes internacionais já atribuídas, e ajudou a spin-off da FCUP a submeter mais uma patente em 2023.
Nesta empresa, que tem também entre os fundadores Rosa Romero e Francisco Silva, da FCUP, e os investigadores Cord L. Arnold, Thomas Fordell e Miguel Miranda, de Lund, foi também co-inventora da técnica de dispersion scan.
A sessão de atribuição do Honoris Causa será transmitida em direto, no canal da U.Porto no Youtube.
A propósito desta distinção, no dia seguinte, 29 de maio, decorrerá, às 11h00, o seminário “Attosecond light pulses for studying electron dynamics” com Anne L’Huillier, no Auditório Ferreira da Silva, na FCUP. A entrada é livre.