“Tem sido fantástica esta aventura em conjunto e fico extremamente feliz por este título”. Foi assim, que Anne L’Huillier, a 103ª doutora Honoris Causa pela Universidade do Porto e 10ª por proposta da Faculdade de Ciências, agradeceu a atribuição deste título, numa cerimónia realizada esta terça-feira no Salão Nobre da Reitoria.
Num breve agradecimento, a cientista da Universidade de Lund lembrou a sua longa colaboração científica e tecnológica com a FCUP, que esteve na origem da criação da spin-off da FCUP Sphere Ultrafast Photonics, por diversas vezes premiada.
“A minha ligação com a Universidade do Porto começou em 2006 quando recebi uma carta do estudante Miguel Miranda”, contou. A prémio Nobel da Física destacou a criação, em conjunto, da tecnologia dispersion scan (d-scan) que surgiu do trabalho e orientação da tese de doutoramento em Física de Miguel, que viria a ser primeiro em cotutela entre Lund e a U.Porto e o primeiro com estas características para Lund desde a sua fundação.
“Lembro-me muito bem de ver o Miguel a mostrar as suas experiências no nosso laboratório. Foi um grande momento”, frisou. “Esta interação com a Universidade do Porto tem sido extremamente benéfica para Lund e para mim pessoalmente. Abriu-me as portas da investigação aplicada e da inovação”, continuou.
“É uma grande honra”, destacou. Terminou o seu discurso com um “obrigada”, bem português, sem deixar de dirigir palavras à equipa da Sphere Ultrafast Photonics, pelo trabalho, dedicação e hospitalidade em todos os momentos que partilharam juntos no Porto.

Equipa da Sphere Ultrafast Photonics presente na cerimónia. Da esquerda para a direita: Paulo Guerreiro, Rosa Romero (presidente da Sphere), Anne L’Huillier, Helder Crespo e Miguel Miranda. Foto: SICC FCUP
“Um exemplo brilhante e motivador para as próximas gerações de cientistas”
Antes de Anne L’Huillier receber as insígnias doutorais, compostas pelo escapulário, o anel – símbolo de colegialidade e irmandade com os restantes Doutores -, o Livro – símbolo de sabedoria – e o Diploma de Doutoramento, já Helder Crespo, docente da FCUP e cofundador da Sphere Ultrafast Photonics tinha proferido o seu elogio.
Lembrou, destacou e explicou as importantes descobertas científicas da homenageada. “As suas contribuições não só lhe valeram o Prémio Nobel da Física de 2023, como também consolidaram o seu papel como líder e inovadora na comunidade científica global”, ressalvou.
Depois de percorrer os principais marcos da longa carreira científica de Anne L’Huillier, Helder Crespo descreveu a homenageada como um “exemplo brilhante e motivador para as próximas gerações de cientistas”. Não sem antes frisar que “a sua trajetória e conquistas demonstram que, com determinação e paixão, é possível superar barreiras e alcançar o mais alto nível de reconhecimento científico”.
A terminar a sua intervenção sublinhou a importância da atribuição do título de Honoris Causa “pelo impacto duradouro que teve nas nossas vidas e na comunidade científica” e também a “dedicação incansável, visão inovadora, generosidade, e espírito colaborativo” da Nobel da Física.
Sobre Anne L’Huillier
Nascida em Paris a 16 de agosto de 1958, Anne L’Huillier tem uma carreira de destaque na área da Física. Após estudar Matemática e Física na École Normale Supérieure, Fontenay-aux-Roses, França, completou, em 1986, o doutoramento em Ciências Físicas na Université Pierre et Marie Curie. No mesmo ano, integrou o Commissariat à l’énergie atomique et aux énergies alternatives (CEA Paris-Saclay), onde iniciou o seu percurso como cientista.
Depois de passar por várias instituições na Suécia e nos Estados Unidos, chega, em 1995, à Universidade de Lund na Suécia. Nesta universidade, aperfeiçoou a fonte de impulsos de luz de atossegundos e ilustrou o movimento dos eletrões em átomos e moléculas em tempo real. Estudou, com sucesso, o efeito fotoelétrico em tempo real, teorizado por Albert Einstein em 1905, envolvendo a absorção de um quanta de luz (fotão) e a emissão – quase – simultânea de um eletrão.
Este seu trabalho tem sido reconhecido com a atribuição de inúmeras distinções, entre as quais se destacam a conquista do prémio EPS-QEOD Quantum Electronics and Optics Prize em 2019, do prémio Wolf de Física e do prémio BBVA Frontiers of Knowledge, em conjunto com Ferenc Krausz e Paul Corkum, ambos em 2022.
O apogeu de todos estes prémios foi o Nobel da Física de 2023, partilhado com Pierre Agostini e Ferenc Krausz, pelo estudo de eletrões com “impulsos de luz de atossegundos”.
Anne L’Huillier é cofundadora da Sphere Ultrafast Photonics e co-inventora da técnica dispersion-scan, uma das três patentes atribuídas a esta spin-off sediada na FCUP.