A alumna da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Joana Paiva, criou uma startup para combater o desperdício de sementes e de cereais. A Seedsight, startup deeptech incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto foi recentemente premiada a nível europeu e aborda um desafio crucial para a sobrevivência dos sistemas alimentares: a qualidade, disponibilidade e acessibilidade de alimentos essenciais como os cereais e as sementes.
A startup de Joana Paiva, doutorada em Física – através do programa MAP-fis, lecionado pelas universidades do Porto, Aveiro e Minho –, está entre as 100 startups europeias em destaque pela Techstars Deep Tech Berlim, onde se encontra em processo de aceleração.
“Na Seedsight estamos diariamente a debruçarmo-nos como iremos alimentar este planeta até 2050 e todas as gerações vindouras. Contudo, a nossa preocupação não é apenas como vamos alimentá-lo, mas sim, nutri-lo”, destaca a CEO desta empresa.
A tecnologia da Seedsight tem a capacidade simultânea de validar informações de caracterização de cereais via análises online biomoleculares e biofísicas de baixo custo em larga escala (sendo possível a monitorização de carregamentos inteiros de cereais), usando tecnologias blockchain, deep learning, AI e sensores óticos, o que leva à otimização da identificação das melhores espécies, origens e fornecedores de sementes e grãos, aos preços mais competitivos.
Com este desenvolvimento, esta startup pretende dotar a cadeia agroalimentar com o conhecimento necessário para melhorar o processo de decisão na aquisição de matérias-primas de produtos alimentares, contribuindo para a luta global contra o desperdício e a fraude alimentares, e para a sustentabilidade ao longo da cadeia de valor.
Os modelos da startup portuguesa preveem uma redução futura de 8% nos custos relacionados com a triagem do melhor cereal, até 89% na redução do tempo de aquisição dos melhores grãos e 20% de aumento da produtividade na transformação de cereais em produtos finais (aumentando assim a disponibilidade de quantidade de alimentos com os mesmos recursos atuais).
Nas últimas décadas, os custos associados às matérias-primas alimentares, como trigo, milho, arroz, aveia e quinoa, aumentaram entre 18 e 20%. Este aumento deve-se, principalmente, aos desafios em fases iniciais da cadeia de valor, como a ineficiência dos processos de seleção dos grãos, que são demorados e dispendiosos. A solução da Seedsight visa aprimorar o processo de produção, reduzindo o desperdício e as perdas económicas.
A inovação da Seedsight permite capacitar os intervenientes no comércio agrícola e de processamento de alimentos com informação oportuna para efetuarem escolhas mais inteligentes na definição e controlo de grãos adaptados à sua realidade, através de práticas que contribuem para o aumento da sustentabilidade.
Uma startup premiada
Este ano, a empresa de Joana Paiva alcançou o lugar de Top 17 entre os finalistas do ParticleX Urbantech Global Challenge 2024, uma iniciativa focada no mercado asiático. Atualmente, a Seedsight está a realizar estudos piloto em colaboração com parceiros em África para a deteção de micotoxinas, no âmbito do programa Validate.Global, promovido pelos Impact Hubs Vienna, Kigali e Accra. Está, ainda, integrada no projeto europeu EPICENTRE, e foi finalista do último cohort do Global Entrepeurnership Center em Dusseldorf, Alemanha.
Além disso, foi galardoada com o prestigiado “Prémio Mulheres na Agricultura 2023” na conceituada feira europeia de tecnologia agroalimentar, a AGRITECHNICA, sediada na Alemanha.
Para além da CEO Joana Paiva, fazem também parte da equipa da Seedsight Gonçalo Ramos (CCO) e Paulo Santos.
Esta não é uma estreia de Joana Paiva no empreendedorismo. A jovem alumna da FCUP é também cofundadora e CTO da iLOF – Intelligent Lab on Fiber, uma startup que,no final de 2019, uma das vencedoras de um programa de aceleração do EIT Health, o maior consórcio da área da saúde no Mundo e recebeu dois milhões de euros para, através da inteligência artificial e da fotónica, combater o Alzheimer.
Sobre Joana Paiva
Formou-se em Engenharia Biomédica pela Universidade de Coimbra e rumou depois à FCUP, em 2015, para frequentar o Doutoramento em Física (MAP-fis), onde se voltou para a aplicação da física às neurociências. É professora auxiliar convidada no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. A jovem investigadora é diretora técnica na iLoF – Intelligent Lab on Fiber, LDA, empresa que ajudou a fundar em 2019, tendo sido o seu trabalho reconhecido em várias nomeações e prémios, como os prémios Portuguese Women In Tech (PWIT Awards) e a inclusão na lista “30 under 30” da Forbes Magazine.