A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) desenvolveu um algoritmo que permitirá rastrear a pegada carbónica e hídrica ao longo de todo o processo produtivo das vinhas da Região Demarcada do Douro (RDD). A ferramenta, construída no âmbito de uma colaboração da FCUP com o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), será capaz de quantificar a pegada desde o tratamento da parcela de terreno até ao momento em que o vinho é engarrafado. 

“A FCUP foi contactada pelo IVDP para desenvolver um Manual de Boas Práticas de Sustentabilidade para o Instituto, e dois aspetos importantes foram a pegada de carbono, e a gestão hídrica”, descreve Conceição Santos, docente da FCUP que coordenou este trabalho em conjunto com o docente Jorge Queiroz

Para o IVDP, a circunstância de a RDD estar muito exposta às alterações climáticas, tal como todo o território da Península Ibérica, torna ainda mais relevante a criação de um algoritmo. Esta ferramenta vai ajudar a medir a intensidade e impacto das subidas bruscas de temperatura, das secas severas e extremas e da ausência de precipitação.

Este instituto estabeleceu, assim, uma parceria com a FCUP, de modo a encontrar soluções e caminhos para as três áreas consideradas prioritárias: pegada carbónica, rastro hídrico e boas práticas.

“Uma viticultura sustentável deve promover a curto/longo prazo a qualidade ambiental e os recursos biológicos, assegurando também a produção e serviços, e sendo economicamente viável, melhorando a qualidade de vida dos produtores, empresários e comunidade local”, notam os docentes da FCUP e coordenadores do trabalho. 

Da pegada carbónica de uma garrafa de vinho à criação do algoritmo

Paralelamente a este trabalho, Joaquim Esteves da Silva e Luís Pinto da Silva debruçaram-se, num artigo de revisão publicado em 2022 revista científica Cleaner and Circular Bioeconomy, sobre o cálculo da pegada carbónica do vinho e descreveram as conclusões a que chegaram, bem como as propostas de soluções. 

Os dois investigadores concluíram que as etapas que mais contribuem para a pegada de carbono na produção do vinho são o engarrafamento e a viticultura. Sugerem então, no estudo, que os produtores utilizem garrafas de vidro de menor peso, garrafas recicladas ou até mesmo de outros materiais mais sustentáveis, o recurso às energias renováveis na vitivinicultura, e o sequestro de carbono pelo solo e pelas árvores para mitigar as emissões de dióxido de carbono. 

O rasto de carbono deixado pelos diferentes vinhos regionais ou internacionais, segundo a literatura existente, pode oscilar muito. “Descobrimos que as pegadas de carbono são altamente variáveis, o que demonstra a necessidade de um protocolo e uma fórmula de cálculo mais uniforme e padronizada para estimar este parâmetro de uma forma mais significativa”, referem os autores na conclusão do artigo. Depois de realizado este trabalho, surgiu a possibilidade de criação de um algoritmo para o IVDP ao qual se dedicaram os investigadores da FCUP. 

Esta ferramenta será disponibilizada num microsite aberto aos associados do IVDP. O objetivo passa por melhorar a gestão dos vários processos da cadeia de valor da vinha e do vinho da região, e contribuir para os passos seguintes (por exemplo, certificação de produtos) de melhoria das práticas sustentáveis no Douro vinhateiro. 

Para além de Joaquim Esteves da Silva, na componente de qualidade ambiental e pegada de carbono, estiveram envolvidos neste manual de boas práticas docentes da FCUP com valências complementares nas áreas de sustentabilidade: Nuno Formigo na gestão da água, João Honrado e Claudia Fernandes na gestão da paisagem, biodiversidade e serviços, Jorge Queiroz na gestão e proteção da vinha e Conceição Santos em indicadores de sustentabilidade regional e no enquadramento nas diretivas internacionais de sustentabilidade.