Quando bem usados, os antibióticos são uma arma poderosa. Mas quando mal administrados, pode ser, como se diz, na expressão popular, “pior a emenda que o soneto”. É que as bactérias podem criar resistência aos antibióticos e ser letais. 

É precisamente para encontrar alternativas e estratégias para combater as bactérias resistentes aos antibióticos, está a ser desenvolvida, nos laboratórios da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), investigação que pode abrir novos caminhos para tratar infeções causadas por bactérias

Na prática, o objetivo é “tratar as que atualmente já não respondem aos antibióticos disponíveis na terapêutica e infeções associadas à formação de biofilmes, cujas particularidades tornam o tratamento antibiótico ineficaz”, como explica Lucinda Bessa, investigadora no Laboratório Associado para a Química Verde da Rede de Química e Tecnologia (LAQV-REQUIMTE), do Departamento de Química e Bioquímica da FCUP.

Antibacterianos de fontes naturais ou obtidos por síntese

A investigadora tem testado e avaliado a atividade antibacteriana de vários novos compostos, quer isolados de fontes naturais, como extrato de lúpulo, quer obtidos por síntese, nomeadamente péptidos antimicrobianos. 

Depois de em 2019, ter publicado um estudo sobre a eficácia in vitro de vários péptidos antimicrobianos em combater estirpes resistentes aos antibióticos, a equipa da investigadora está agora focada nos compostos que têm potencial para “interferirem com o sistema de comunicação bacteriano – o chamado quorum sensing”. 

“Muitas infeções que se pretendem combater têm uma origem polimicrobiana (mais do que uma espécie microbiana está envolvida)”, salienta Lucinda Bessa. “Nesse contexto, é importante perceber que a comunicação e as interações que se estabelecem entre as diferentes espécies envolvidas são muito complexas e dificultam ainda mais a sua erradicação”, acrescenta. 

O estudo que atualmente está a ser realizado na FCUP envolve a formação de biofilmes bacterianos na presença e ausência de novos compostos, a extração do RNA desses biofilmes e avaliação do efeito desses compostos na expressão de genes envolvidos no quorum sensing bacteriano. 

Alho: um antibiótico natural

Já relativamente aos antibacterianos de fonte natural, há também na FCUP, no departamento de Biologia, trabalho a ser desenvolvido. O público-alvo são, nesse caso, os mais jovens. Desde 2017, que o grupo de investigação Microbial Diversity and Evolution, liderado pelo docente da FCUP, Fernando Tavares, tem um atividade da Universidade Júnior em que os participantes ficam a conhecer como é possível através do uso do alho evitar o crescimento de bactérias. 

O uso do alho como antibiótico natural foi alvo de um estudo, publicado em 2011, que descreve a importância e a possibilidade de consciencializar os alunos acerca das consequências da resistência aos antibióticos e da importância do uso criterioso de antibióticos. Afinal, numa matéria para a qual é necessário mais informação e sensibilização, é de pequenino que torce o pepino.