A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da U.Porto (CIIMAR-UP) são duas das entidades que integram o consórcio Agritox, uma nova rede europeia de alerta de toxinas de fungos, que vai estudar o processo de contaminação por toxinas emergentes produzidas por fungos – as micotoxinas – em alimentos e produtos agrícolas que integram a cadeia alimentar.

Segundo Vitor Vasconcelos, diretor do CIIMAR e coordenador da equipa portuguesa envolvida no projeto , existe ainda “pouca informação em relação a toxinas emergentes produzidas por fungos – micotoxinas”. Isto apesar de se saber que “essas toxinas podem contaminar a cadeia alimentar humana, podendo estar presentes em rações animais que depois podem contaminar o leite, ovos, carne e outros produtos.”

De facto, há poucos estudos a nível mundial que contemplem toda a cadeia de valor destes produtos no que diz respeito às micotoxinas, sejam as mais estudadas como as aflatoxinas, ocratoxina A e fumonisinas, sejam as emergentes. Da mesma forma, reforça Vitor Vasconcelos, “são poucos os trabalhos e investigações que analisam a transferência das toxinas na cadeia alimentar. Há trabalhos que se focam nas rações, outros no leite ou nos ovos, mas não há trabalhos que seguem todo o processo.”

O projeto Agritox visa por isso contribuir para melhorar o conhecimento do estado da arte e fornecer às autoridades regulatórias europeias informação com vista a eventuais ajustes à legislação vigente. O grande objetivo é “fazer o seguimento do processo de contaminação em toda a cadeia alimentar”, acrescenta o também professor catedrático da FCUP.

Missão portuguesa

Neste consórcio internacional, financiado pelo Programa de Cooperação Interreg Atlantic Area, a FCUP e o CIIMAR ficarão responsáveis pela revisão do estado da arte relativo à ocorrência de micotoxinas em toda a cadeia alimentar, em especial as micotoxinas emergentes que não são cobertas pelos programas de monitorização. Em paralelo,  terão como missão envolver todo o sector ligado à produção e transformação dos produtos alimentares com origem agrícola ou em aquacultura a nível nacional, através da organização de reuniões e seminários em que se procurará diagnosticar necessidades e problemas associados às micotoxinas nestas áreas.

Prevista está também a realização de um diagnóstico de micotoxinas que possam contaminar dietas de peixes em aquacultura. “Os fungos gostam de humidade e, muitas das vezes, o que acontece é quando estes alimentos são mal conservados, ou até mesmo durante o processo de tratamento da forragem desenvolvem fungos que podem produzir toxinas e essas toxinas podem contaminar a cadeia alimentar”, explica Vítor Vasconcelos.

Ao longo dos próximos três anos, serão ainda estudados fungos e micotoxinas associados a macroalgas comummente utilizados como fertilizantes agrícolas – como o sargaço – em especial nas regiões costeiras do norte do país. Para isso, os fungos responsáveis por essas contaminações serão isolados e identificados utilizando metodologias moleculares, e o seu potencial de produção de toxinas será avaliado por métodos químicos.

O projeto Agritox é liderado pela Universidade de Santiago de Compostela (USC) e conta com um financiamento europeu de 1,95 milhões de euros. Para além do CIIMAR, fazem ainda parte do consórcio a Queen’s University Belfast (Reino Unido), TEAGASC  (Irlanda), CIFGA (Espanha), Diputacion de Pontevedra, Estacion Fitopatológica Areeiro (Espanha), Agence nationale de Securite Sanitaire de l’alimentation, de l’environment et du travail (França), e a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde.

A próxima rede AGRITOX terá lugar nos  dias 24 e 25 de outubro, na Queen’s University Belfast, na Irlanda do Norte.