Com o crescimento populacional e o desenvolvimento económico, é cada vez maior a preocupação com a redução e reutilização de resíduos, em paralelo com a recuperação de recursos e a produção de bioenergia. A pensar na economia e no ambiente,  investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) vão trabalhar em conjunto no projeto europeu M2ex, que se concentra na recuperação e reutilização de metais para otimizar a bioeconomia circular.

Atualmente, o uso de bioreatores (equipamentos onde se controlam as condições adequadas para um processo biológico ocorrer), em que ocorram processos de fermentação por ação microbiana sem oxigénio, “é uma das tecnologias mais económicas e eficazes para o tratamento e valorização de resíduos. Esta baseia-se em “processos microbianos que permitem a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos”, como explica Marisa Almeida, investigadora do CIIMAR.

Só que este processo, para ser mais eficaz, “depende da adição de micronutrientes, nomeadamente metais específicos, para que haja uma conversão de resíduos e uma produção de energia adequadas, reduzindo custos”. Estes micronutrientes, como por exemplo o Ferro, Cobalto ou Níquel, não se degradam e ficam retidos nos resíduos dos bioreatores (digeridos). Ora, é bastante comum que os produtos resultantes do tratamento e valorização de resíduos em reatores sejam utilizados como fertilizantes para solos e se, a concentração de metais adicionados for elevada, podem mesmo chegar a contamina-los. “Torna-se assim necessário investigar e desenvolver estratégias e tecnologias capazes de criar oportunidades de recuperação e reutilização desses metais no contexto da bioeconomia circular”, aposta a investigadora.

É aqui que entra em ação o projeto M2ex, que tem como objetivo principal formar uma nova geração de especialistas (cientistas e engenheiros), com conhecimentos e habilitações multidisciplinares que possam contribuir para o desenvolvimento de metodologias de recuperação de recursos, na ótica da bioeconomia circular, na Europa.

Doutorandos vão testar metodologias para descontaminar solos 

A FCUP e o CIIMAR serão responsáveis pelo acompanhamento e supervisão de três estudantes de Doutoramento e por receber outros três estudantes das universidades parceiras. Segundo Marisa Almeida, “o trabalho estará relacionado com a avaliação dos processos de distribuição de metais em solos e dos processos microbianos associados após a aplicação de digeridos contaminados com metais, tendo em vista a descontaminação desses solos através de processos de bioremediação (ação microbiana) e fitoremediação (ação por parte de plantas)”.

Estes processos biológicos serão também estudados na remediação dos resíduos dos bioreatores antes da sua aplicação no solo. “Temos de garantir a segurança química e biológica destes digeridos (resíduos dos bioreatores), nomeadamente que os metais que contêm estão em níveis não tóxicos”, aponta a investigadora.

São também objetivos deste projeto a reutilização destes resíduos dos bioreatores de forma segura como biofertilizantes e  a recuperação de metais para poderem voltar a ser utilizados nos bioreatores como micronutrientes para fortalecerem as reacções químicas no seu interior.

O M2ex arrancou no final do mês de março com uma primeira reunião à distância com investigadores das instituições parceiras dos cinco países envolvidos, Portugal, França, Itália, Espanha e Irlanda. Neste projeto participam Ana Paula Mucha, investigadora do CIIMAR e docente da FCUP, Carlos Rocha Gomes, docente da FCUP e membro do CIIMAR, e a investigadora Marisa Almeida. Este projeto é financiado pelo programa Horizon 2020 da União Europeia, no âmbito de projetos Marie Sklodowska-Curie. 

A próxima fase do projeto é a contratação de estudantes de doutoramento. As candidaturas estão abertas até ao dia 12 de junho.