Pode parecer estranho, mas faz todo o sentido para os investigadores que se propõem viajar até à Antártida à procura de novas respostas terapêuticas. São fungos que podem combater fungos e são a base de um novo projeto, que conta com a participação da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

A ideia partiu de Cledir Rodrigues Santos, doutorado em Química pela FCUP, sob orientação científica de Paula Gomes, docente e investigadora do Departamento de Química e Bioquímica, e que também participa neste projeto.

O objetivo, pode ler-se numa notícia na página da Universidade de La Frontera, no Chile, onde trabalha Cledir Santos, é “identificar moléculas com potencial antifúngico capazes de controlar os fungos patogénicos humanos”. De acordo com os investigadores, é urgente procurar novos tipos de antifúngicos porque os fungos estão a tornar-se cada vez mais resistentes aos tratamentos.

Os cientistas vão à Antártida, local privilegiado, procurar lípidos presentes nos fungos e isolá-los. O trabalho segue depois para a FCUP. “Neste projeto, seremos responsáveis pela análise estrutural, mediante diversas técnicas espetroscópicas, como a ressonância magnética nuclear ou a espetrometria de massa, dos lípidos isolados dos fungos antárticos”, explica Paula Gomes.

E porquê a Antártida?

“Os fungos neste local ainda estão pouco explorados e, por terem um habitat com um clima tão extremo, muito provavelmente apresentarão um perfil lipídico bastante diferente do de outros fungos, mais conhecidos, que predominam em zonas climáticas temperadas, subtropicais e tropicais, marcadamente diferentes da Antártida”.

As doenças fúngicas matam mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo anualmente. Nos últimos anos, aumentou o número de fungos reconhecidos como patógenos humanos e as infecções fúngicas ou micoses estão a tornar-se doenças comuns.

Por isso, este projeto, que vai ter a duração de três anos, poderá ter um impacto na saúde pública. “Procuramos o potencial dessas moléculas lipídicas como antifúngicos e a partir dessas evidências apresentaremos a possibilidade de criar um fármaco bastante versátil, com maior eficácia e menos efeitos colaterais em benefício das pessoas”, afirma o alumnus da FCUP, Cledir Santos.