Seja na agricultura, na prospeção geológica ou no mar, há recursos e conhecimentos com base na tecnologia que podem ajudar a melhorar as condições de vida das populações. E é precisamente isso que está a ser feito em Moçambique através do projeto DOPPLER – Development of Palop Knowledge in Radioastronomy, que conta com a participação da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

O objetivo principal deste projeto financiado pela Fundação Aga Khan é capacitar estudantes e professores em Moçambique, por exemplo, para o uso de dados de satélite e tecnologias para observação da Terra a partir do espaço.

Devido à pandemia, o projeto, que arrancou em 2018, foi prolongado por mais um ano. Depois de um ano de interrupção, uma equipa de investigadores da FCUP está a organizar uma Escola de Observação da Terra online, para julho deste ano.

A formação será destinada à Universidade de Licungo, Extensão da Beira. “Temos na equipa o Ubaldo Gemusse, estudante moçambicano do doutoramento em Geociências,  que fez prospeção geológica e que verificou que existe uma grande riqueza de lítio na região”, conta Ana Cláudia Teodoro, docente e investigadora do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, da FCUP e coordenadora deste projeto na faculdade.

“Nesta formação vamos dar a conhecer os principais satélites e sensores, técnicas de análises e classificação de imagens de satélite, como obter índices ambientais, e como analisar diferentes aplicações da deteção remota na Observação da Terra e nas geotecnologias”, explica. Recorrendo ao know-how da equipa da FCUP na área da deteção remota, vão abordar temáticas como as múltiplas aplicações à agricultura, à biologia e às geociências.

Para facilitar o acesso e a adesão à escola online, o projeto vai oferecer aos participantes uma semana de acesso à Internet para que os formandos possam aceder a partir das suas casas.

Uma grande vontade de aprender

Se há projetos em que muito se aprende ao participar neles, o DOPPLER é um deles. Ana Cláudia Teodoro relembra a semana presencial, na Escola Superior de Desenvolvimento Rural, em Vilanculos, que decorreu em 2019, dedicada à agronomia. “Havia uma enorme vontade de aprender”, descreve a coordenadora do projeto.

Nessa semana, os investigadores da FCUP explicaram como usar os dados de softwares de livre acesso e gratuitos da NASA e da ESA para aplicar na agricultura, para perceberem por exemplo que plantas necessitam de mais ou menos água, ou se estão saudáveis. “Quisemos ajudá-los a otimizar as técnicas agrícolas utilizando dados de satélites”, explica a docente do DGAOT.

Neste primeiro workshop participaram vários elementos da Escola Superior de Desenvolvimento Rural e também funcionários de cargos públicos ligados às áreas da Agronomia. Com formação na FCUP na área de Engenharia Geográfica, Sosdito Estevão Mananze, na altura estudante de doutoramento em Engenharia Geográfica, está hoje nessa mesma escola a usar os conhecimentos que aprendeu nas áreas da deteção remota aplicada à agricultura e florestas e valorização económica dos recursos naturais.

Regresso a Moçambique para explicar a deteção remota aplicada ao mar

Apesar da situação atual, a ambição da “Escola de Observação da Terra”, que integra o projeto DOPPLER, é regressar presencialmente a Moçambique. O futuro é uma escola para abordar a aplicação da deteção remota ao mar, explorando a riqueza de recursos marinhos deste país. “Podemos mostrar, por exemplo, a utilização da deteção remota para a identificação de cardumes de peixes”, explica.

A equipa da FCUP envolvida neste projeto integra também os docentes do DGAOT, Mário Cunha, Lia Duarte, os investigadores Dalmiro Maia, Neftalí Sillero, do Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais e Joana Cardoso Fernandes, do Instituto de Ciências da Terra.

Do projeto DOPPLER fazem também parte o Instituto de Telecomunicações, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Coimbra, a Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) e a Organização Não Governamental Osuwela, também de Moçambique. Esta parceria conta, ainda, com o apoio do Cluster de Competitividade TICE.PT.

Para além da observação da Terra, o projeto pretende também capacitar as instituições moçambicanas para as áreas da astronomia e Big Data nos PALOP.

Este foi um dos projetos das Ciências Exatas e Engenharia financiado através do primeiro Concurso Conjunto Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)-Aga Khan Development Network (AKDN), inserido no âmbito da Iniciativa Conhecimento para o Desenvolvimento.