A investigadora Susana Santos, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), foi distinguida com uma Bolsa Marie Skłodowska-Curie de Pós-doutoramento, financiada pela União Europeia. O financiamento, que pode ascender a 172 mil euros, foi atribuído ao projeto URBANE, que visa estudar os efeitos da exposição ao ambiente urbano durante a gravidez e infância no risco de multimorbilidade na adolescência.

Estas prestigiadas bolsas têm como objetivo promover a investigação de excelência e o reinício da carreira de investigadores que apresentem grande potencial e pretendam desenvolver investigação num país estrangeiro ou regressar ao seu país de origem após experiência internacional, como é o caso da investigadora do ISPUP (ver perfil abaixo).

“Para mim, receber uma Bolsa Marie Curie é um reconhecimento muito importante de todo o meu percurso científico até então e é também uma oportunidade única de valorização e enriquecimento das minhas competências científicas e transversais”, afirma Susana Santos.

No âmbito do financiamento desta bolsa, e sob a coordenação do ISPUP, Susana Santos terá agora um período de dois anos para desenvolver o projeto URBANE, com recurso a dados da Coorte Geração 21.

“Durante o projeto, também terei oportunidade de passar um período na Universidade de Bristol contatando diretamente e colaborando ativamente com investigadores de renome na área da epigenética”, acrescenta a investigadora.

Um problema de saúde pública pouco estudado nos mais jovens

Para além de estudar os efeitos da exposição ao ambiente urbano durante a gravidez e infância no risco de multimorbilidade na adolescência, o projeto URBANE focar-se-á também nos mecanismos subjacentes a estas associações, nomeadamente mecanismos epigenéticos e hormonais.

Trata-se de um projeto inovador porque usa uma abordagem do exposoma para o estudo da exposição ao ambiente urbano (isto é, foca-se no seu estudo de forma holística e integrada). Para além disso, pretende estudar a multimorbilidade, que é um problema de saúde pública pouco estudado em idades mais jovens, mas que é também cada vez mais prevalente e preocupante.

Além do desenvolvimento do projeto em questão, o financiamento atribuído pela Comissão Europeia vai permitir a Susana Santos investir na sua formação científica, através da participação em cursos e eventos científicos e da realização de períodos de mobilidade noutros grupos de investigação internacionais.

“No URBANE, eu aposto numa abordagem interdisciplinar englobando conhecimento de várias áreas e, por isso, integro uma equipa de investigação bastante multidisciplinar, que inclui investigadores do ISPUP mas também de outros grupos internacionais”, acrescenta a investigadora do ISPUP 

Premiar a excelência na investigação

Inspiradas pelo nome da cientista franco-polaca Marie Curie, vencedora de dois prémios Nobel e reconhecida, mundialmente pelo seu trabalho no domínio da radioatividade, as bolsas Marie Curie têm como critérios de avaliação e pontuação a excelência, o impacto e a qualidade e eficiência da implementação dos projetos candidatos.

Na decisão final pesam também outros critérios como a qualidade do supervisor científico e da instituição de acolhimento, sendo avaliada a capacidade destes para auxiliarem no desenvolvimento da carreira científica do investigador.

Para esta edição de 2022/23, a Comissão Europeia atribuiu, ao abrigo do atual programa quadro – Horizonte Europa, um total de 257 milhões de euros para o financiamento dos projetos candidatos que cumprissem os critérios de atribuição.

Num universo de 7044 projetos submetidos, foram selecionados 17,5%, correspondentes a um total de 1235 investigadores pós-doutorados, de 80 nacionalidades, que irão agora desenvolver os seus projetos em 48 países da Europa e do Mundo.

Em Portugal, a taxa de sucesso para a atribuição desta bolsa tem vindo a melhorar nos últimos anos, embora esteja ainda abaixo da média europeia. Para esta edição de 2022/23, foi atribuído financiamento a 25 instituições portuguesas, que representam 11,4% das candidaturas apresentadas.

Estes números destacam a relevância da conquista de, Susana Santos, que consolida assim o seu lugar entre os melhores do mundo na área da investigação científica em saúde pública.

Sobre Susana Santos

Licenciada em Ciências da Nutrição (2009) pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e mestre em Epidemiologia (2012) pela Faculdade de Medicina (FMUP) da Universidade do Porto, Susana Santos concluiu o Programa Doutoral em Saúde Pública da FMUP em 2017, em regime de co-tutela entre a U.Porto e a Universidade de Roterdão (Países Baixos).

Seria, de resto, no estrangeiro que viria a desenvolver grande parte do seu percurso científico. Em 2009, foi investigadora estagiária no Centre for Food Policy, City University London. Depois de quatro anos no ISPUP (2010 a 2014) como bolseira de iniciação científica e posteriormente de doutoramento, partiu para Roterdão para integrar o Departamento de Pediatria e o grupo de investigação da Generation R. Pelo meio, trabalhou como investigadora de pós-doutoramento, durante seis meses, no ISGlobal, em Barcelona, Espanha (2018/2019).

Doutorada em Saúde Pública pela U.Porto, Susana Santos regressou à Universidade em 2022 para integrar os quadros do ISPUP. (Foto: DR)

De regresso ao ISPUP em março de 2022, Susana Santos é investigadora doutorada no ITR – Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional, e integra o Laboratório Determinantes da Saúde Perinatal.

A sua linha de investigação foca-se maioritariamente no papel de exposições adversas no início da vida (nomeadamente, exposições psicossociais, do estilo de vida, contaminantes químicos e relacionadas com o ambiente urbano) na saúde das crianças.