“O escritor escreve. O leitor lê. Aqui, à boca de cena, ouve. Tem a palavra Agustina”, diz-nos Mónica Baldaque, filha única de Agustina Bessa-Luís  e responsável pela seleção de textos que vamos poder ouvir em Agustina à Boca de Cena, o mais recente Podcast da Casa Comum, dedicado à escritora e Doutora Honoris Causa da Universidade do Porto.

Forças e fraquezas, reflexões e pensamentos escritos em folhas soltas ou em cadernos de notas. Papéis esquecidos em gavetas de móveis que fixaram um olhar, ou dimensão da vida. Neste novo podcast serão partilhados “apontamentos dispersos que podem ser pequenas frases escritas em papelinhos (…) Serão pensamentos avulsos, escritos entre o hotel e o aeroporto, ou reflexões do seu dia-a-dia”, adianta Mónica Baldaque, responsável pela seleção dos textos.

Dois deles já se encontram disponíveis: A Viagem de trezentos passos, publicado no Diário Popular, em 1965, e Uma definição de mim mesma, texto retirado de Caderno de Significados, publicado pela Guimarães Editora, em 2015.

Neste último, e consciente da pluralidade de ângulos com que se pode olhar alguém, Agustina Bessa-Luís oferece uma possível definição de si mesma. Fala da dedicação à casa, mas de forma não exaustiva. Isto porque escrever era a “condição dominante”. Ficamos a saber do “equilíbrio entre a vida de escritora e a vida familiar”. Agustina Bessa-Luís considera-se uma pessoa calma, tendo a prudência por companheira e deixando que os acontecimentos a escolham. “Orientamos a vida”, adverte, “mas não determinamos o destino”. Consciente do poder dos “grãos de areia” que nos desviam. “E o conhecimento desta fragilidade é também uma força”.

Na calha estão ainda textos que ajudarão o ouvinte a ter uma perspetiva renovada da escritora sendo que, alguns deles, serão inéditos. Simultaneamente, haverá ainda espaço para a divulgação de outro tipo de artigos como ensaios, excertos de romances, ou até mesmo entrevistas a Agustina Bessa-Luís. Previstos estão também excertos do último livro de Mónica Baldaque, Sapatos de Corda – Agustina que coloca a narrativa no tempo passado com os pais em Coimbra, Porto, Vila do Conde e Região do Douro, revelando alguns aspetos inéditos de Agustina Bessa-Luís.

“Uma das vozes femininas mais importantes da ficção portuguesa”

Maria Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante, a 15 de outubro de 1922. Escreveu romances, obras de teatro, biografias, contos, crónicas, ensaios, artigos, etc. Várias das suas obras foram traduzidas para castelhano, francês, italiano, grego, alemão, dinamarquês e romeno, teatralizadas e adaptadas ao cinema por Manoel de Oliveira. A Sibila, Ternos Guerreiros e As Estações da Vida serão as próximas obras a projetar a palavra no cinema.

“Agustina Bessa-Luís é uma das vozes femininas mais importantes da ficção portuguesa contemporânea, mas a sua escrita laboriosa e culta, que exige ao leitor constante atenção, constitui por vezes um obstáculo para quem se inicia no mundo ficcional da autora”, nota Fátima Vieira, Vice-Reitora para a área da Cultura da U.Porto.

Segundo a mesma responsável, o novo podcast, “se por um lado deliciará leitores e admiradores da escritora, por outro constituirá certamente uma magnífica introdução à obra agustiniana”. Por outro lado, trata-se de uma iniciativa “estratégica para a concretização da missão da Casa Comum, que é promover o acesso democrático à arte e à cultura”.

“No caso particular de Agustina, trata-se de promover a obra de uma autora do Porto, Doutora Honoris Causa pela nossa Universidade, cuja atualidade se deve manter viva para as novas gerações”, finaliza Fátima Vieira.

“O ouvinte às vezes suspende a respiração; outras vezes comove-se; outras vezes surpreende-o a cólera; outras vezes adormece”, avisa Mónica Baldaque. “Tudo vale, afinal, para estimular o convívio que se vem perdendo. Vão entrando!”