A Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto inaugurou esta quarta-feira, dia 18 de maio, a exposição ‘NENHUM SÍTIO É DESERTO. Álvaro Siza: Piscina de Marés (1960-2021)’, em mais uma iniciativa integrada no programa de celebração dos 40 anos da FAUP (1979-2019).

Com curadoria de Teresa Cunha Ferreira e Luís Urbano, esta exposição  ilustra as múltiplas vidas de uma das mais emblemáticas obras da arquitetura do século XX, integrando um conjunto de elementos desenhados, fotográficos, audiovisuais, maquetas e objetos – muitos deles inéditos – que nos permitem reconstituir uma narrativa crítica do processo de projeto, construção e reabilitação do edifício ao longo das últimas seis décadas.

O título da exposição parte do célebre aforismo formulado pelo autor a propósito da multiplicidade de referências – naturais, topográficas, construídas, imateriais – que o arquiteto encontra no lugar e que servem de catalisador criativo do projeto.

Com efeito, ao contrário do que se possa pensar, o complexo da Piscina de Leça da Palmeira, desenhado e construído entre 1960 e 2021, não foi concebido como um projeto único, mas sim resultado de consecutivas encomendas e revisões que foram ditando o crescimento paulatino do conjunto balnear, desde a edificação de um tanque de marés até à sua recente renovação e extensão para norte.

Dividida em três secções, a exposição apresenta, no primeiro núcleo, uma leitura temporal do processo de projeto e construção (1960-1995), através de uma cronologia fotográfica, peças desenhadas e escritas, publicações, maquetas e filmes, sendo, por exemplo, reveladas as várias preexistências do local anteriores à construção da Piscina de Marés: a ‘piscina natural’ ou a ‘poça’, onde Siza ia a banhos na infância; o ‘tanque de lagostas’; ou a ‘meia laranja’, um alargamento do passeio da marginal sobre a praia.

A segunda secção é dedicada à recente intervenção (2018-2021), testemunhada através de fotografias de Inês d’Orey, exibidas em paralelo com fotografias de obra, objetos resgatados do estaleiro, um documentário e maquetas que documentam a evolução do edifício.

A terceira secção reúne imagens captadas entre 1979 e 2022, por fotógrafos como Brigitte Fleck, Giovanni Chiaramonte, Roberto Collovà, Mimmo Jodice, Luís Ferreira Alves, Fernando Guerra, João Morgado, Niccolò Galeazzi, Marta Ferreira e Inês d’Orey.

Teresa Cunha Ferreira é um dos curadores da exposição. (Foto: U.Porto)

Um olhar renovado sobre a Piscina de Marés

A Piscina de Marés, classificada como Monumento Nacional em 2011 e incluída no “Conjunto de Obras Arquitectónicas de Álvaro Siza” inscritas na Lista Indicativa do Património Mundial (2017), destaca-se neste âmbito pelos seus excepcionais valores culturais e paisagísticos, e por ser uma referência internacional da arquitetura moderna ainda em pleno uso pelas comunidades locais.

“Nenhum sítio é deserto. Álvaro Siza: Piscina de Marés (1960-2021)” propõe, assim, um olhar renovado sobre esta obra de referência no contexto da arquitetura mundial, abrindo novas perspetivas interpretativas e, simultaneamente, inspirando o ensino e a prática da arquitetura para as gerações futuras.

A exposição é acompanhada pela edição de um catálogo que propõe uma viagem temporal sobre a obra, sem prejuízo de alguns desvios para maior clarificação das fases projetuais. Porém, os diferentes suportes documentais (desenhos, fotografias, peças escritas) aparecem aqui combinados em sequência cronológica, permitindo um olhar mais filológico sobre as diferentes estratigrafias do conjunto edificado. Apresentam-se, então, diferentes possibilidades de leitura da obra, abertas a múltiplas perspetivas de análise e interpretação.

A Exposição enquadra-se no projeto da FAUP financiado através da iniciativa ‘Keeping It Modern’ da Fundação Getty, integrado na Cátedra UNESCO “Património, Cidades e Paisagens. Gestão Sustentável, Conservação, Planeamento e Projeto”, atribuída à Universidade do Porto através da FAUP.

A sessão de inauguração de ‘NENHUM SÍTIO É DESERTO. Álvaro Siza: Piscina de Marés (1960-2021)’ contou com as intervenções do arquiteto Álvaro Siza, do Diretor da FAUP, João Pedro Xavier, e dos curadores Teresa Cunha Ferreira e Luís Urbano.

A exposição vai ficar patente ao público até 1 de julho. As visitas podem ser efetuadas de segunda a sexta (encerra aos feriados), das 9h00 às 20h00. A entrada é livre.

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