Raposas, corujas, ginetas, rãs e cegonhas são exemplos de animais que estão agora mais seguros nas estradas do Alentejo central. O mérito é do LIFE LINES , um projeto que terminou recentemente e que envolveu várias instituições de ensino superior portuguesas, entre as quais a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Pioneiro a nível europeu, o LIFE LINES teve como objetivos ensaiar, avaliar e divulgar práticas dirigidas à mitigação dos efeitos negativos das infraestruturas lineares (estradas, caminhos de ferro e linhas de média e alta tensão) nas comunidades de animais selvagens e vegetais.

Cinco anos após o arranque do projeto, o balanço não poderia ser mais positivo. “A mortalidade de anfíbios mostrou reduções de até 90%. Também as corujas mostram reduções de 70% na mortalidade. A média anual de atropelamentos de mamíferos de médio e grande porte nas bermas diminuiu após as intervenções de 16 para 13”, realça Neftalí Sillero, investigador responsável pelo projeto na FCUP.

Com intervenção ativa nas diferentes fases do projeto, os investigadores da Faculdade de Ciências mapearam, por exemplo, seis plantas invasoras na área de intervenção por meio de dados e técnicas de deteção remota. ”Fizemos um voo de fotografias aéreas (com uma resolução espacial de 10 centímetros). As imagens foram classificadas ao nível de espécies”, descreve Neftalí Sillero, que faz investigação no CICGE, Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais da FCUP. Os resultados foram recentemente publicados num estudo do International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation.

Já no domínio da deteção remota para a robótica, foram também desenvolvidos vários protótipos de monitorização e dissuasão com técnicas de robótica e computer vision. Deste trabalho resultou, por exemplo, um protótipo mais pequeno para monitorizar a mortalidade de passeriformes – como as corujas – nas estradas.

O projeto contou uma participação ativa de vários investigadores da FCUP. (Foto: DR)

Evitar o perigo das linhas elétricas

Para além dos atropelamentos, as linhas elétricas são também um problema para as aves. A pensar nisso, foi criado um dispositivo para dissuasão do poiso/nidificação de grandes aves em linhas elétricas. “A resposta das aves depende das espécies: as cegonhas ignoram os ruídos do dispositivo, enquanto que milhafres e corvídeos são mais sensíveis, nomeadamente os corvídeos”, conta o investigador.

Este protótipo também foi testado com a coruja-do-mato, mas sem resultados conclusivos. Como forma de monitorizar o sucesso desta tarefa, os cientistas da FCUP construíram um protótipo fixo para detetar a aproximação  de forma contínua, de aves de grande dimensão (especialmente águia-de-asa-redonda e corvos, entre outros).

“As micro-reservas sob os postes das linhas elétricas mostram um aumento na abundância de pequenos mamíferos e borboletas e na riqueza e abundância de espécies da flora”, nota Neftalí Sillero-

Da equipa da FCUP que trabalhou no LIFE LINES também fizeram parte os investigadores Ana Cláudia Teodoro, José Alberto Gonçalves, Joana Fernandes, Mário Cunha e Rui Moura, todos eles docentes do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP, e João Honrado, docente do departamento de Biologia.

O projeto contou ainda com o trabalho dos bolseiros de investigação Patrícia Lourenço, Marc Franch,Diana Sousa Guedes, Hélder Ribeiro e Joana Silva. 

Coordenado pela Universidade de Évora, em parceria com a Universidade de Aveiro e a FCUP, os Municípios de Évora e Montemor-o-Novo, a Infraestruturas de Portugal, a Associação de Desenvolvimento Local MARCA e a Quercus, o projeto Life LINES contou com um investimento global de 5,5 milhões de euros, dos quais 60% foram financiados pela Comissão Europeia.