É uma nova espécie de lagarto angolano cuja descrição resulta de um estudo (e também de uma expedição) que envolveu uma equipa de investigação internacional, incluindo estudantes de doutoramento da Universidade do Porto. Chama-se Acanthocercus ceriacoie e foi batizado em homenagem a Luís Ceríaco, o Curador-Chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).

Recentemente revelada num artigo publicado na revista científica Zootaxa – com o título: All in all it’s just another branch in the tree: A new species of Acanthocercus Fitzinger, 1843 (Squamata: Agamidae), from Angola. -, esta nova espécie de lagarto angolano pertence ao género Acanthocercus. Tem cerca de 12 cm de comprimento, o que já é considerado de grande dimensão para o grupo. É colorido e visualmente impactante. Surge em pequenos povoados e, apesar de bastante “comum”, a verdade é que não tem sido alvo de estudo por grande parte dos cientistas que se dedicam a esta fauna angolana.

Os exemplares utilizados na descrição em causa foram recolhidos no Parque Nacional da Cangandala, na Província de Malanje, localizada no centro de Angola, no âmbito de um projeto que tem como objetivo o levantamento dos anfíbios e répteis de Angola. Um desses exemplares está depositado na coleção de zoologia do MHNC-UP.

As expedições começaram em 2013 e decorrem até aos dias de hoje. O Acanthocercus ceriacoie foi coletado pela equipa em 2015, sendo que, na altura, não se sabia “que se tratava de uma espécie nova para a ciência”, explica Mariana Marques,  estudante de doutoramento na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), colaboradora do MHNC-UP e líder do estudo que levou à descrição desta nova espécie de lagarto angolano.

Os exemplares utilizados na descrição do Acanthocercus ceriacoie foram recolhidos no Parque Nacional da Cangandala, situado no centro de Angola (Foto: DR)

No total, foram identificadas “14 espécies de anfíbios e 19 de répteis”. Deste trabalho, resultou a publicação da “primeira lista de espécies de anfíbios e répteis do parque e a produção de um booklet sobre a diversidade de espécies do parque”.

Segundo a também investigadora do BIOPOLIS/ CIBIO InBIO, a espécie foi dedicada a Luís Ceríaco, Curador Chefe do MHNC-UP, “como forma de reconhecimento pelo trabalho que tem vindo a desenvolver com a biodiversidade africana”, bem como pela “dedicação que tem tido para uma nova geração de estudantes portugueses e angolanos”.

Para além de Mariana Marques, fizeram parte deste projeto Bruna Santos e Diogo Parrinha, ambos estudantes de doutoramento na Faculdade de Ciências da U.Porto, BIOPOLIS/ CIBIO InBIO, a desenvolver projetos no MHNC-UP, assim como outros investigadores internacionais dos EUA, Angola e Alemanha.

Distinguido recentemente com uma Bolsa da National Geographic Society, Luís Ceríaco Luís Ceríaco já descreveu de mais de duas dezenas de novas espécies para a ciência. (Foto: DR)

O mundo vivo é ainda hoje um mistério

Face às múltiplas crises que o planeta atravessa em matéria de biodiversidade, “é ainda surpreendente e de extrema importância todas as espécies que se têm vindo a descobrir e a descrever como novas para a ciência. O mundo vivo continua a ser hoje um mistério para todos nós”, sendo que, a cada dia que passa e devido a fenómenos vários como “as alterações climáticas, a perda de habitat, a poluição, sobre-exploração, etc., vamos continuamente perdendo informação sobre a nossa biodiversidade”, avisa Mariana Marques. Pior ainda, “sem nunca a termos conhecido ou estudado”.

A investigadora nota que, atualmente, “conhecemos cerca de 1.5 milhões de espécies em todo o mundo”, estimando-se que “mais de 8 milhões se encontrem ainda por descrever”. Contudo, grande parte destas espécies está “em iminente risco” de “nunca serem conhecidas/descritas” porque, entretanto, “se extinguiram”.

Desde 2020, foram descritas com recurso às coleções do MHNC-UP seis novas espécies para a ciência, como a Rã de Borracha de Newton (Phrynomantis newtonii), Sapo de Chuva de Angola (Breviceps ombelanonga), Serpente Castanha de Bocage (Boaedon bocagei) Osga da Rainha Nzinga (Hemidactylus nzingae), Osga de Jorge Paiva (Hemidactylus paivae) e agora a Lagarto de Ceríaco (Acanthocercus ceriacoi).

Mariana Marques acredita, no entanto, que as boas notícias são para continuar e que “mais descobertas irão ser levadas a cabo com recurso às coleções de história natural e ao material recém coletado nas expedições”.