“A Saúde vai europeizar-se, vai tornar-se uma política europeia. O preço dos medicamentos inovadores, a investigação e os dados vão puxar a saúde para o nível europeu”. As palavras são da eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques e estiveram em destaque na reunião “(Re)utilização de dados em investigação e inovação em saúde”, que decorreu, no passado dia 24 de janeiro, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Organizado em colaboração com o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e com o CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, o encontro contou com a presença de cerca de 350 pessoas.

Maria Manuel Leitão Marques considerou que “os dados são o hidrogénio da saúde” e que a Europa irá caminhar no sentido da criação de uma infraestrutura de dados de saúde a nível europeu (o “European Health Data Space”). Na opinião da eurodeputada, um dos principais desafios da Europa será dar aos seus investigadores dados que lhes permitam concorrer com a China, que não tem proteção de dados, e com os EUA, que seguem regras de mercado, criando um modelo regulado próprio. Para isso, será preciso fazer o “upskilling” de todos os cidadãos, sem deixar ninguém para trás, sob risco de gerar desconfiança ou mesmo rejeição às tecnologias. “Temos de garantir que a tecnologia continue a ser um sinal de deslumbramento, e não de consternação”, apela.

Para a eurodeputada, os dados de saúde irão certamente transformar o hospital do futuro, deixando aos profissionais mais tempo para a prática de uma medicina personalizada, o que também mudará a forma como se ensina Medicina nas faculdades.

“Um desafio europeu e mundial”

Na sessão de abertura do evento, o vice-reitor da Universidade do Porto, Pedro Rodrigues, aplaudiu a iniciativa e o subdiretor da FMUP, Francisco Cruz, classificou esta área como central. Já António Soares, do CINTESIS, considerou que os dados constituem “um desafio europeu e mundial”.

Já o presidente do Conselho de Administração do CHUSJ, Fernando Araújo, entende que estamos perante “um processo disruptivo” e “com enorme potencial de resolver problemas de saúde”, “melhorar a qualidade de vida dos doentes” e, ao mesmo tempo, reduzir as despesas do sistema. Segundo o responsável, o CHUSJ e a FMUP estarão na linha da frente deste “mundo novo”.

António Soares (gestor executivo do CINTESIS), Francisco Cruz (subdiretor da FMUP), Pedro Rodrigues (vice-reitor da Universidade do Porto), Fernando Araújo (presidente do Conselho de Administração do CHUSJ) e João Fonseca (professor da FMUP e investigador do CINTESIS) também integraram o painel da sessão. (Foto: DR)

Também João Fonseca, professor da FMUP, investigador do CINTESIS e responsável pela iniciativa, considerou que os dados de saúde têm sido subaproveitados e que a sua utilização em investigação e inovação poderá contribuir para melhores decisões, melhores políticas de saúde e maior sustentabilidade do sistema.

A saúde em debate

Nesta reunião, foram abordados três grandes temas relacionados com os dados de saúde. Luís Filipe Antunes, da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), Sofia Silva, da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), e António Gameiro Marques, do Gabinete Nacional de Segurança, discutiram o acesso e a segurança, com moderação de Ricardo Cruz Correia (FMUP/CINTESIS) e de comoderação de Carlos Martins.

A qualidade de dados e a integração de doente de dados foi o segundo tema em debate, com a participação de Ana Luísa Neves (Imperial College/CINTESIS), Henrique Martins (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), Filomena Santos (IQVIA) e Joana Feijó (HCP), moderados por Alberto Freitas (FMUP/CINTESIS) e comoderados por Tiago Taveira-Gomes (FMUP).

O terceiro tema foi a sustentabilidade económica, tendo sido discutido por Filipa Bernardo (AstraZeneca), Cláudia Ricardo (Roche), Luís Rocha (Novartis) e Ricardo Mestre (ACSS), com moderação e comoderação de Francisco Rocha Gonçalves (FMUP) e de Pedro Pereira Rodrigues (FMUP/CINTESIS), respetivamente.

No encerramento, Jorge Félix Cardoso e Pedro Pereira Rodrigues concluíram que existem enormes oportunidades e riscos na utilização de dados, sendo preciso incluir doentes e profissionais de saúde no processo. Os resultados desta “sessão de trabalhos”, que inclui uma análise SWOT, serão analisados por um grupo de trabalho criado para o efeito.