27 de junho de 2019. A Comissão Europeia anuncia, com pompa e circunstância, a aprovação das primeiras 17 alianças de Universidades Europeias, uma iniciativa apresentada como o primeiro passo na construção de um Espaço Europeu da Educação, através da criação de “campus interuniversitários” na Europa. O futuro do ensino superior europeu começa a desenhar-se nesse dia. E nele cabe a Universidade do Porto, enquanto membro da European University Alliance for Global Health (EUGLOH), juntamente com as “aliadas” Universidade Paris-Saclay (França), LMU Munique (Alemanha), Universidade de Lund (Suécia) e Universidade de Szeged (Hungria).

Desde esse dia, muito mudou no mundo enquanto o conhecíamos. Mas os “votos” da EUGLOH permanecem tão fortes como aqueles que, há um ano atrás (o projeto foi lançado oficialmente a 13 de setembro), abriam as portas a uma cooperação pioneira entre as cinco universidades ao nível da promoção da mobilidade de estudantes, docentes e investigadores, ou da criação de projetos e programas de ensino e investigação conjuntos nos domínios das Ciências da Vida, Ciências Sociais, Geociências, Engenharias, Desporto, Nutrição ou Veterinária.

“O balanço é francamente positivo”, começa por referir Maria de Lurdes Correia Fernandes, Vice-Reitora da U.Porto com o pelouro da Formação, Organização Académica e Cooperação. E justifica: “Mesmo tendo em conta a complexidade da integração e cooperação interinstitucional ambicionado por uma Aliança desta natureza, este primeiro ano permitiu reforçar significativamente o conhecimento mútuo entre as Universidades parceiras, harmonizar e compatibilizar de modos de cooperação, compor e mobilizar equipas e grupos de trabalho transversais”.

Um ano de conquistas

É incontornável. A história do último ano não pode ser contada sem uma “referência” à COVID-19. E o da EUGLOH não foi exceção. Contudo, “apesar de as restrições provocadas pela pandemia terem obrigado a cancelar as atividades presenciais a partir de março de 2020, a sua grande maioria foi rapidamente transformada em atividades virtuais”, refere a Vice-Reitora.

Entre as ações que preencheram o primeiro ano da Aliança incluiu-se assim um vasto conjunto de formações e atividades virtuais – mas não só – em que participaram centenas de estudantes das cinco universidades parceiras, incluindo perto de 200 estudantes da U.Porto.

O ano inaugural da EUGLOH fica ainda marcado pelo lançamento e aprovação, no âmbito do programa H2020, do primeiro projeto conjunto da Aliança – o EUGLOHRIA – que, ao longo dos próximos três anos, vai aplicar 2 milhões de euros no “estreitamento das colaborações nos domínios da investigação e da inovação” no seio do consórcio.

Ainda no domínio da investigação, Maria de Lurdes Correia Fernandes destaca a “forte mobilização dos parceiros” para a “colaboração em diversos setores científicos nas múltiplas áreas relacionadas com a saúde global (e, concretamente, dos impactos da COVID-19 na saúde pública)”.

Em resumo, “as atividades desenvolvidas e os projetos em curso confirmam o enorme potencial transformativo da EUGLOH nas Universidades parceiras, nomeadamente para a promoção da qualidade, diversidade cultural e competitividade académica e científica na área do ensino superior Europeu”, avalia a Vice-Reitora.

Estudantes das várias universidades parceiras participaram, de 13 a 17 de julho, num curso sobre “Plantas Medicinais – Desafios e Oportunidades, promovido pela Faculdade de Farmácia da U.Porto. (Foto: FFUP)

U.Porto na linha da frente

Relativamente ao papel que a Universidade vem desempenhando na Aliança (onde lidera o Work Package direcionado para as áreas do Desenvolvimento Profissional, Pessoal e Empregabilidade), Maria de Lurdes Correia Fernandes enaltece que a U.Porto “assumiu a importância estratégica da EUGLOH, desde a sua conceção”. Um compromisso sustentado na “necessidade de uma colaboração mais sistémica e estruturada” com “universidades de grande qualidade e prestígio internacional”, como as que integram o consórcio.

Foi também com esse espírito que os diferentes membros da U.Porto abraçaram o desafio da Aliança. A começar pela comunidade estudantil. “A adesão dos nossos estudantes tem sido extraordinária, já que são (dentro da parceria) os que mais participam nas atividades conjuntas promovidas pelos parceiros da EUGLOH“, exemplifica a Vice-Reitora.

Das iniciativas onde a U.Porto deixou a sua marca destaca-se igualmente a forte participação em duas escolas de verão relacionadas com temas ligados à Saúde Global, organizadas pela UPSaclay e pela USzeged. A estas soma-se a dinamização de “atividades vocacionadas para a preparação dos futuros diplomados para uma melhor integração no mercado de trabalho”, ou a “forte participação de docentes e estudantes em atividades de formação” ligadas a áreas tão variadas como o empreendedorismo, inovação, marketing, comunicação, entre outras.

Relação para durar

Concluído o primeiro ano do “casamento”, urge agora projetar os desafios que se avizinham no horizonte da Aliança. E para Maria Lurdes Correia Fermandes, o maior deles “coloca-se à nossa capacidade de concretização de diversas atividades previstas no projeto, incluindo o aumento significativo da mobilidade de estudantes e staff, essencial para promover o contacto entre parceiros e para o melhor conhecimento mútuo e consequente envolvimento em programas conjuntos, que de formação, quer de investigação e inovação”.

Nesse sentido, e “pese embora a imprevisibilidade da evolução da pandemia”, está já em curso um “ambicioso plano de atividades para o ano letivo 2020-2021”, (…) em simultâneo com a elaboração de um “plano de sustentabilidade da Aliança muito para além da duração do projeto piloto”.

Por outro lado, e como projeta a Vice-Reitora, “continuaremos a explorar todas as potencialidades da colaboração a distância e da mobilidade virtual de estudantes, docentes, investigadores e técnicos, já que ela tem permitido ultrapassar vários dos constrangimentos decorrentes da pandemia”.

Um modelo com futuro

O certo é que o sucesso da EUGLOH não é caso único entre as 17 alianças de Universidades Europeias lançadas em 2019. De acordo com um inquérito elaborado pela Comissão Europeia, 60% das instituições envolvidas consideraram mesmo que “fazer parte de uma aliança foi muito útil durante a pandemia, mantendo-se conectadas, trocando boas práticas e experimentando diversas formas de mobilidade virtual em moldes inovadores e muito promissores para o futuro”.

Não estranha por isso a aprovação, em julho passado, de mais 24 alianças, de um conjunto de 62 novas candidaturas. Um facto que, para Maria de Lurdes Correia Fernandes, “comprova a forte adesão das instituições de Ensino Superior ao conceito de campi interuniversitários europeus, ancorados numa cooperação estruturada e não fugaz”.

A Vice-Reitora acredita, por isso, que o futuro tratará um “reforço da solidez das alianças”. Entre os passos que apontam nesse sentido inclui-se a criação de um Grau Europeu automaticamente reconhecido dentro da UE”, iniciativa que “será certamente uma mais-valia para os estudantes, na medida em que comprovará o reconhecimento mútuo da qualidade de todas as instituições envolvidas e o caráter internacional da formação e competências dos estudantes”.

Em estudo está também a criação de um “estatuto europeu” das alianças, “sujeito ainda à evolução destes projetos-piloto”.