Um estudo desenvolvido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na prestigiada revista “PLOS One”, mostrou que é possível identificar biomarcadores da asma no condensado do ar exalado (expirado) das crianças. Esta identificação é útil para ajudar a definir um tratamento mais personalizado para os doentes.

Vários fatores têm sido identificados como responsáveis pela carga de doença da asma. “Do ponto de vista da saúde pública, faltam ainda abordagens seguras e eficazes para a prevenção primária ou secundária da patologia, que possam ser utilizados precocemente”, explica Francisca Mendes, primeira autora do estudo, coordenado pelo investigador do ISPUP, André Moreira.

Para superar essa falha, os investigadores propuseram-se então a “identificar potenciais biomarcadores no condensado do ar exalado, os chamados microRNAs, que auxiliem a diagnosticar e a endotipar a asma em crianças em idade escolar”.

“Os microRNAs são moléculas de RNA (ácido ribonucleico) que existem no organismo e que modulam quase todos os processos biológicos. Estudos anteriores mostraram que certos microRNAs poderão estar associados ao desenvolvimento de asma. No entanto, é ainda escassa a investigação sobre o papel destas moléculas como potenciais biomarcadores para diagnosticar a doença. Este estudo procura esclarecer a questão”, salienta Francisca Mendes.

Estudo com crianças do Porto

Os investigadores do ISPUP analisaram o perfil de microRNAs no condensado do ar exalado de 186 crianças, com idades entre os 7 e os 12 anos de idade, de 20 escolas primárias públicas, localizadas na cidade do Porto.

Ao analisarem individuamente os microRNAs das crianças, os investigadores observaram se estes estavam associados, positiva ou negativamente, com a presença de sintomas de asma, como tosse e sibilância, e a existência de sintomas respiratórios, como a tosse irritativa e a dificuldade em respirar.

O estudo mostrou então que é possível medir os microRNAs no condensado do ar exalado de crianças e que este é um método simples, seguro e não invasivo. Foi ainda possível comprovar que “alguns destes microRNAs podem ser usados como potenciais biomarcadores da asma nas crianças, auxiliando a definir endótipos de asma (termo que descreve as características observáveis e patofisiológicas da doença), com vista a orientar o tratamento da patologia de forma mais personalizada”, diz Francisca Mendes.

A investigação, intitulada Development and validation of exhaled breath condensate microRNAs to identify and endotype asthma in children, encontra-se disponível aqui.

Os investigadores Inês Paciência, António Carlos Ferreira, Carla Martins, João Cavaleiro Rufo, Diana Silva, Pedro Cunha, Mariana Farraia, Pedro Moreira, Luís Delgado e Miguel Luz Soares também participaram no trabalho.