Cuidar da saúde mental dos enfermeiros durante a pandemia de COVID-19 é uma questão de saúde pública”. A afirmação pertence a um grupo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, e tem como base os resultados de um estudo publicado na revista Environmental Research, no qua se conclui que a pandemia teve impacto na saúde mental dos enfermeiros portugueses, traduzindo-se em sintomas de depressão, ansiedade e stress.

Através da realização de um questionário online com a participação de 829 enfermeiros, na maioria mulheres, percebeu-se que esses sintomas estiveram consistentemente associados ao medo de infetar e de ser infetado pelo SARS-CoV-2. Este foi mesmo o principal fator de risco identificado.

O estudo revela que, ao longo da primeira vaga da pandemia, existiu “uma tendência positiva” no sentido de um decréscimo destes sintomas. Esta tendência parece refletir “um fenómeno de adaptação psicológica” dos enfermeiros semelhante ao que foi observado noutras epidemias.

“Os enfermeiros portugueses adaptaram-se ao ‘novo normal’ imposto pela pandemia de COVID-19”, diz Francisco Sampaio, investigador do CINTESIS e primeiro autor do estudo.

Ansiedade pode ser “gatilho” para a doença mental

O especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica avisa, contudo, que “a experienciação de elevados níveis de ansiedade, na fase inicial da pandemia, pode ser o gatilho para o espoletar de doença mental em pessoas que previamente se apresentassem já mais vulneráveis”.

Noutro estudo assinado também por investigadores do CINTESIS, constatou-se que os níveis de sintomas depressivos, ansiedade e stress eram significativamente mais baixos entre os enfermeiros que usavam sempre ou mais regularmente um conjunto de estratégias de promoção da saúde mental.

Entre as estratégias estão a atividade física, atividades relaxantes, atividades recreativas (ler, ouvir música, ver televisão), hábitos alimentares saudáveis, ingestão adequada de água, pausas entre turnos de trabalho, manutenção de contactos sociais à distância e verbalização dos sentimentos e emoções.

É urgente atuar

Os investigadores entendem que estes dados devem ter implicações imediatas nas políticas de saúde, de modo a preparar os serviços de saúde para novas vagas de COVID-19.

“É essencial que os governos e os gestores de saúde identifiquem sistematicamente os grupos profissionais, incluindo os enfermeiros, com maior risco de depressão, ansiedade e/ou stress, de modo a providenciar uma intervenção precoce”, exorta Francisco Sampaio.

A equipa considera que “é crucial providenciar suporte emocional adequado aos enfermeiros, o que deverá incluir a normalização das emoções, uma comunicação clara, a garantia de satisfação das necessidades básicas, a possibilidade de pausas suficientes em número, frequência e duração, entre turnos de trabalho e ao longo dos turnos, bem como a disponibilização de apoio psicológico”.

Além disso, deverão ser adotadas “estratégias de promoção da saúde mental, nomeadamente através da criação de espaços nas instituições de saúde para a prática de atividade física, relaxamento e atividades recreativas”. Igualmente fundamental é a contratação de profissionais de saúde mental.

Estes estudos contaram ainda com a participação dos investigadores do CINTESIS Carlos Sequeira, Laetitia Teixeira, Tânia Correia e Lara Pinho.

Estudo conduzido pelo CINTESIS aponta a intervenção precoce como solução para proteger a saúde mental dos profissionais, antevendo novas vagas de COVID-19.