Um novo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) mostra que níveis elevados de uma molécula pró-inflamatória no sangue estão associados a eventos cardiovasculares graves e potencialmente fatais em doentes com insuficiência cardíaca. Uma descoberta que abre as portas a novas terapêuticas para esta síndrome que afeta quase meio milhão de portugueses.

A equipa da FMUP encontrou uma associação entre os níveis de interleucina-6 (IL-6), uma citocina produzida pelo sistema imunitário, e um maior risco de hospitalização por insuficiência cardíaca ou de morte por causa cardiovascular.

De acordo com o artigo científico publicado na revista Cytokine, esta relação é independente de fatores de prognóstico classicamente utilizados, incluindo a função cardíaca, função renal e a proteína C reativa (PCR), sendo que a IL-6 revelou ser superior como biomarcador inflamatório nestes doentes.

Os investigadores basearam-se num registo de doentes, com idades compreendidas entre os 69 aos 84 anos, internados no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, com diagnóstico principal de insuficiência cardíaca.

Estudos anteriores já tinham demonstrado uma relação entre os níveis de IL-6 e a mortalidade global em doentes com insuficiência cardíaca.

“Este trabalho acresce ao conhecimento existente ao demonstrar uma forte associação da IL-6 com os eventos cardiovasculares, independentemente da presença de infeção concomitante, reforçando sua utilidade com biomarcador”, explicam os autores.

Segundo Francisco Vasques-Nóvoa, “tendo em conta as ações conhecidas da IL-6, os nossos dados também sustentam a possibilidade de benefício clínico associado ao uso de novas terapêuticas que tenham como alvo a IL-6”.

Entre estas terapias poderão estar anti-inflamatórios ou inibidores diretos da IL-6, mas serão ainda necessários mais estudos para avaliar a sua eficácia e segurança antes da aplicação na insuficiência cardíaca aguda.

Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), este trabalho contou com a participação de vários investigadores da FMUP, Laboratório Associado RISE, CHUSJ e Universidade de Lorraine (França).