Chloé Darmon (França), Natália Fávero (Portugal), Ana Arantes (Portugal), Isadora dos Anjos (Brasil), Anne Choukroun (França), Nila Goolaub (Suiça), Maria Clara Savoia (Brasil) e Marta Regadas (Portugal) são estudantes do Mestrado integrado em Arquitetura (MIARQ) da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e, juntas, formam o novo Núcleo Feminista da FAUP.

Nascido em outubro de 2019, no contexto do debate gerado na unidade curricular ‘Porto, Territórios e Redes de Invisibilidade’, lecionada pelo docente Mário Mesquita, e reforçado após uma conversa integrada no ciclo multidisciplinar ‘E Contudo, Elas Movem-se! Mulheres nas Artes e nas Ciências’, organizado pela Reitoria da U.Porto, o coletivo tem como missão ser um “espaço de reflexão, partilha e discussão de temas relacionados com diferentes formas de opressão sobre as mulheres no contexto da sociedade em geral e da FAUP e da Arquitetura em particular”. Pretende ainda constituir-se como um espaço de apoio dentro da faculdade para estudantes, professoras, investigadoras e funcionárias.

Desde a sua criação, o Núcleo tem organizado várias atividades, como conversas e encontros. Entre elas inclui-se o primeiro Encontro Feminista da FAUP, que decorreu ao longo da última semana em vários espaços da FAUP e da Reitoria, no âmbito das celebrações do Dia Internacional da Mulher e da marcha feminista internacional de 8 de março.

Durante cinco dias, procurou-se com este evento promover o debate em torno de questões como “o machismo no meio académico (em particular na arquitetura), as desigualdades no trabalho, a historiografia feminista da arquitetura”, entre outros aspetos, conforme refere o texto de apresentação do evento.

Para além destas ações, quase todas as estudantes que integram o Núcleo Feminista da FAUP estão a desenvolver dissertações relacionadas com questões de género. Na agenda do coletivo inclui-se ainda: a apresentação de uma proposta de criação de grupos de estudo na FAUP sobre ‘estudos de género’ aplicados à arquitetura e urbanismo; a participação no debate sobre a revisão do Plano de Estudos do MIARQ com a proposta de inclusão de perspetivas de género nas aulas de projeto, história e teoria; a realização de propostas de aquisição de livros na Livraria e Biblioteca; e o incentivo à criação de uma unidade curricular optativa sobre ‘arquitetura e feminismo’.

O Núcleo prevê também um outro nível de sensibilização sobre o movimento feminista através da realização de ações mais informais como conversas, jantares e instalações na FAUP.

As mulheres já “dominam” em Arquitetura

Na recente dissertação de MIARQ em torno do tema do feminismo, ‘Três arquitectas. Três gerações. Uma escola’, desenvolvida por Natascha Teixeira Cabral, a análise à presença feminina no curso de arquitetura revela que a percentagem, na faculdade, de mulheres estudantes na década de 70 rondava os 30%. Um número que, desde a década de 90 tem vindo a subir, tendo sido alcançada a igualdade de mulheres e homens estudantes em 2000. Atualmente, a percentagem de mulheres estudantes na FAUP situa-se nos 60%.

No que se refere ao corpo docente, apesar de se verificar que nos docentes de carreira existem apenas 20% de mulheres, nos docentes convidados a percentagem sobe para 50%. Uma tendência que se confirma também nos últimos concursos de entrada para a carreira docente e de investigação na FAUP.

No contexto profissional e português, as mulheres representam cerca de 45% dos inscritos na Ordem dos Arquitectos. Já panorama internacional, é de destacar a recente atribuição do Prémio Pritzker de Arquitetura 2020 – muitas vezes referido como “Nobel da Arquitetura” – às arquitetas irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara, sócias fundadoras do escritório Grafton Architects.  São agora cinco as mulheres distinguidas com o Prémio Prizkter depois de Zaha Hadid (2004), Kazuyo Sejima, da dupla de arquitetos japoneses SANAA (2010), e Carmen Pigem, do trio de arquitetos espanhóis RCR (2017).