Estudo visa compreender e lançar as bases para a melhoria das condições de vida nos campos de refugiados. (Foto: DR)

Em que condições humanitárias se vive nos campos de refugiados em África? Que intervenção, a nível psicológico, se pode levar a cabo junto destas populações? Para dar resposta a estas questões, Cátia Carvalho dispensou os inquéritos online e as entrevistas por telefone. Em vez disso, esta estudante de 23 anos, finalista do Mestrado Integrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto, mudou-se de armas e bagagens para o campo de refugiados de Molé, na República Democrática do Congo, onde estará até inícios de março num projeto  “apadrinhado” pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Iniciado no passado dia 20 de fevereiro, este estudo de caráter exploratório e etnográfico visa compreender as condições de vida em que  vivem os mais de 6 mil refugiados centro-africanos do campo de Molé, bem como as circunstâncias que os levaram até ele. Na prática, “vou estudar o seu quotidiano e os seus problemas, atividades que fazem para passar o tempo, prestação de cuidados de saúde e a forma como se dá escolaridade às crianças e jovens. Também me interessa perceber quais as soluções que os campos oferecem para resolver os seus problemas e, por último, se sentem necessidade de intervenção psicológica, que é escassa em campos de refugiados”, explica Cátia Carvalho ao noticias.up.pt.

Cátia Carvalho quer alertar para o “paradoxo” subjacente aos campos de refugiados: uma “solução humanitária” muitas vezes transformada em “solução de indefinição em relação ao futuro”.

A partir dos resultados obtidos no terreno, a estudante espera lançar as bases para futuros projetos de intervenção “ao nível da saúde mental, da demografia e política” junto da população do campo de Molé e de outras estruturas semelhantes. Mas não só. “Quero também chamar a atenção das autoridades e governos para o paradoxo do que se diz ser uma solução humanitária. O que acontece é que os campos são uma solução permanente e de indefinição em relação ao futuro para a maior parte dos refugiados, que passam vidas inteiras neles”.

De forma a facilitar a integração e a interação com os refugiados, Cátia Carvalho fez um curso de Francês e aprendeu Lingala, o dialeto que se fala na Rep. Democrática do Congo. Uma tarefa que se revelou mais fácil do que o processo que levou a estudante até África. “Foi uma luta! Tive que adiar o término do curso dois anos pois tive que esperar pela autorização para fazer a investigação”, conta. Múltiplos contactos com pessoas em Portugal e no estrangeiro e e-mails sem resposta para gabinetes do ACNUR de diferentes países depois, a perseverança acabaria por dar frutos. “Entrei em contacto com o consulado de Portugal em Kinshasa, que mediou a minha ida com o diretor regional do ACNUR. Nesse momento foi aberta uma exceção e, finalmente em outubro de 2013, obtive autorização oficial para visitar um dos campos de refugiados”.

Em “troca” do apoio do ACNUR, Cátia vai entregar àquele organismo um artigo científico sobre os problemas prioritários detetados no campo de refugiados. Com regresso marcado para 2 de março, espera também trazer “para Portugal e para a Universidade do Porto uma nova área de estudos e uma temática pouco conhecida”. De África acena ainda com um desejo: “gostava de contribuir com conhecimento científico para a gestão e criação de formas efetivas de solução destes casos”.