No Dia Mundial do Cancro Pancreático, que se assinala esta quinta-feira, 17 de novembro várias instituições juntaram-se no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) para debater o estado da investigação atual sobre cancro pancreático e identificar estratégias sinérgicas que aumentem a possibilidade de desenvolvimento de novos tratamentos que melhorem a qualidade de vida destes pacientes.

Com a maior taxa de mortalidade – 95% -em doenças oncológicas e com uma incidência de cerca de 1800 casos por ano em Portugal e 70 mil na Europa, o cancro do pâncreas só nos últimos anos começou a ser alvo de maior investigação. Entretanto, já estão em curso vários ensaios clínicos que testam novas combinações de drogas já existentes, mas, infelizmente, ainda são poucos os que testam novas terapias.

Com esta iniciativa, a Associação de Doentes «Europacolon Portugal», o i3S, o IPO-Porto, o Porto Comprehensive Cancer Centre (P.CCC) Raquel Seruca e o Centro Universitário Hospitalar S. João (CUHSJ) pretendem sensibilizar três grandes grupos para uma doença em que o diagnóstico precoce é fundamental na melhoria da sobrevida: os utentes, para que conheçam os sintomas e os transmitam ao seu médico assistente; os médicos, para que valorizem os sintomas que lhes são relatados e, que identifiquem grupos de utentes em risco, providenciando um acompanhamento adequado para o despiste da doença; e o Ministério da Saúde, para que crie condições para a investigação em cancro pancreático evoluir».

“Os sintomas são muitas vezes silenciosos e, quando existem, são confundíveis com outras doenças. Em 60% dos casos o diagnóstico é feito numa fase tardia e avançada da doença; existe uma falta de investimento na área científica e na busca de marcadores que permitam fazer o rastreio; e os tratamentos não têm evoluído”, alerta o presidente da «Europacolon Portugal», Vítor Neves, sobre alguns dos fatores que explicam por que razão o número de casos é quase igual ao número de vítimas mortais:

A importância do diagnóstico precoce

A única forma eficaz de se atacar o tumor, continua Vítor Neves, “é identificá-lo precocemente e retirá-lo, mas só 20% dos doentes com cancro pancreático são diagnosticados a tempo de poderem ser intervencionados cirurgicamente. 80% das pessoas diagnosticadas com cancro pancreático avançado apenas vivem quatro a seis meses». Daí a necessidade de médicos e utentes estarem atentos a certos sintomas, nomeadamente cor amarelada dos olhos e pele, emagrecimento sem razão aparente, aparecimento de diabetes de início recente sem aumento de peso, náuseas, dores abdominais e dorsais, alteração dos hábitos intestinais.

Para além da idade – esta doença é frequente a partir dos 50/55 anos -, são igualmente fatores de risco importantes a obesidade, tabagismo, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, antecedentes familiares, doenças oncológicas, doenças inflamatórias intestinais, diabetes recentes sem aumento de peso e pancreatites crónicas.

Com o diagnóstico feito segue-se o tratamento e, neste campo, não há muitas novidades: ou o tumor é removido cirurgicamente ou, no caso disso não ser opção, o tratamento baseia-se em quimioterapia e radioterapia para reduzir o tumor.

Para doentes com cancro metastático, a quimioterapia continua a ser o tratamento mais frequente. «São os mesmos tratamentos que se usam há mais de quatro décadas e têm uma eficiência muito limitada», sublinha Sónia Melo, investigadora do i3S.

Apesar disso, adianta a investigadora que se tem dedicado a estudar o cancro pancreático, “os últimos anos têm sido caracterizados por um aumento muito significativo na investigação sobre a biologia desta doença. O conhecimento adquirido tem permitido testar diferentes tipos de tratamentos, nomeadamente imunoterapia, vacinas e terapias dirigidas. Existem também ensaios clínicos a decorrer, em que estão a ser testadas combinações de diferentes drogas”.

A esperança, acredita Sónia Melo, “é que avanços na investigação sobre este cancro possam, em breve, resultar na identificação de tratamentos que melhorem significativamente a sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes”.

No evento que se realizou no i3S participaram os seguintes especialistas: Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal, José Carlos Machado, investigador do i3S, Claudio Sunkel, diretor do i3S e representante do P.CCC Raquel Seruca, Guilherme Macedo, HSJ/FMUP, WGO e presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, Sónia Melo, investigadora do i3S, José Manuel Fernandes, cirurgião de cancro pancreático no IPO-Porto e Carlos Sottomayor, oncologista do Hospital Pedro Hispano e membro da direção da Europacolon Portugal.