Células infectadas com Leishmania

Equipa de investigação da U.Porto foi a primeira descrever o mecanismo ao qual a Leishmania recorre para ludibriar o sistema imunológico do hospedeiro.

Um artigo publicado por uma equipa do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto na prestigiada revista Journal of Immunology mostra que um grupo específico de células do hospedeiro – as células dendríticas maduras – são responsáveis pela persistência da infeção com o parasita Leishmania, uma doença comum em animais, principalmente em cães, nalgumas regiões de Portugal.

Segundo Ricardo Silvestre, que co-coordenadoudo estudo com Anabela Cordeiro da Silva, “a Leishmania [que também atinge o ser humano,  sobretudo em países como o Brasil ou a Índia] invade um grupo específico de células dendríticas, e são estas que passam a impedir a destruição do parasita”, sendo que, com este trabalho, foi possível perceber “o mecanismo subjacente ao processo, abrindo passo ao controlo desta e doutras doenças infeciosas”. De facto, o grupo de investigadores da U.Porto  é o primeiro a descrever este mecanismo ao qual a Leishmania recorre para ludibriar o sistema imunológico do hospedeiro, mantendo-se numa forma crónica de infecção.

Mariana Resende, primeira autora do trabalho, explica que “embora a Leishmania infete maioritariamente macrófagos, há uma pequena porção de células dendríticas que são infetadas” e é precisamente “este pequeno grupo de células o responsável pela persistência da infeção”. Como se lê no artigo, existe um grupo particular de células dendríticas, as maduras, que sendo infetadas pelo parasita funcionam como tampão à eliminação do invasor. Os investigadores ainda não sabem se este fenómeno é uma forma do hospedeiro evitar lesões maiores resultantes de processos inflamatórios no contra-ataque ou se, por oposição, será um mecanismo que o agente infecioso encontrou para simplesmente enganar o sistema imunológico.

Após demonstrarem o modo pelo qual a Leishmania é capaz de enganar o sistema de defesa, os autores conseguiram ainda manipular esse mecanismo através da reeducação de Linfócitos T com células dendríticas não infetadas mas expostas ao parasita em culturas ex-vivo. Depois de reintroduzidos no organismo infetado, os linfócitos T reeducados reduziram drasticamente a infeção.

Ricardo Silvestre afirma que o trabalho permitiu ” perceber que é possível reverter a condição crónica da leishmaniose com recurso a células dendríticas expostas ao parasita mas que não são infetadas por ele”, abrindo caminho a possíveis tratamentos destas e doutras infeções. O parasita ideal deverá ter a capacidade de manter-se a si e ao hospedeiro vivo, pois “se o parasita é facilmente eliminado, ou se o hospedeiro morre rapidamente, estaremos perante um parasita suicida”, explica o investigador.

O grupo de investigação onde se insere esta equipa é coordenado por Anabela Cordeiro da Silva e dedica-se ao estudo desta infeção, tendo já colocado no mercado testes da Leishmania. A suportar o trabalho estiveram dois projectos financiados pela FCT.