Uma equipa internacional, liderada por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), encontrou evidências estatísticas que apontam para que o exoplaneta HIP 41378 f seja semelhante a Urano, com um sistema de anéis em volta, inclinado de cerca de 25 graus, e estendendo-se de 1,05 a 2,59 vezes o diâmetro do planeta.

O trabalho agora revelado foi liderado por Babatunde Akinsanmi (estudante de doutoramento do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e tinha como grande objetivo explicar a densidade inesperadamente baixa do exoplaneta HIP 41378 f.

“Estes planetas de ‘algodão doce’ [classe em que se inclui o HIP 41348 f] são uma classe rara de exoplanetas, com densidades muito menores do que a dos planetas gigantes do Sistema Solar. É difícil explicar estas densidades tão baixas e por isso resolvemos investigar o que se passava”, começa por explicar o astrofísico nigeriano.

Na verdade, o HIP 41348 ft tem o período orbital mais longo dos exoplanetas pouco densos descobertos até hoje, estimando-se que seja oito vezes menos denso que Saturno (cuja densidade média já é menor que a da água), o que o tornaria altamente anormal.

“O que descobrimos foi que a presença de anéis à volta deste planeta pode facilmente explicar o observado. Os anéis fazem com que o diâmetro do planeta pareça muito maior durante um trânsito”, explica Babatunde Akinsanmi, um. “Quando esta informação é combinada com uma estimativa da massa, determinada pelo método da velocidade radial, leva ao cálculo de uma densidade demasiado baixa”, explica o astrofísico, que está a desenvolver a sua investigação ao abrigo de uma bolsa PhD::SPACE.

Babatunde Akinsanmi está a desenvolver a sua investigação no IA e na FCUP, ao abrigo de uma bolsa PhD::SPACE. (Foto: DR)

“O melhor candidato” a planeta com anéis fora do sistema solar

Para Susana Barros (IA), “ o HIP 41378 f é neste momento o melhor candidato que temos de um planeta com anéis fora do sistema solar. E mesmo que falte ainda “confirmar observacionalmente a existência destes anéis”, a investigara acredita que é algo que pode ser conseguido “brevemente”. “Além disso, este sistema planetário é muito interessante por ter cinco planetas em trânsito, com vários tamanhos e possivelmente composições diferentes”, acrescenta.

“O nosso resultado para o HIP 41378 f mostra que a hipótese de este ser um planeta com anéis é tão plausível como o modelo que mostra que é mesmo só um planeta, mas a existência de anéis torna o planeta mais ‘normal’. Por isso, estender esta investigação a outros exoplanetas ‘algodão doce’ pode revelar mais anéis ‘escondidos’”, acrescenta por sua vez Akinsanmi.

Nuno Cardoso Santos (IA e Dep. de Física e Astronomia da FCUP) esclarece ainda que, “apesar de neste momento não termos em mãos uma prova cabal, as observações e os modelos que desenvolvemos sugerem que é bem possível que se tenha descoberto, pela primeira vez, um exoplaneta com anéis. Uma descoberta que, não sendo totalmente inesperada, nos faz sonhar.”

Sobre o IA

Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF).

A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela FCT/MCES (UID/FIS/04434/2019).