Um grupo de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) descobriu que a presença de variantes em sequências de DNA não codificante pode resultar em alterações em toda a maquinaria genética e causar danos no funcionamento do pâncreas, contribuindo assim para o desenvolvimento da diabetes tipo 2.

Com este estudo, que faz capa na edição de dezembro da prestigiada revista Diabetes, a equipa de investigadores ajuda a desvendar um dos maiores mistérios da genética: o verdadeiro papel do DNA não codificante.

Toda a nossa informação hereditária está incluída no nosso DNA sob a forma de uma sequência de blocos diferentes. Sabe-se que algumas variações na sequência de DNA estão associadas a um aumento do risco de se desenvolver algumas doenças ao longo da vida, como a diabetes tipo 2. Os genes representam, contudo, apenas 2% de toda a informação contida na sequência do nosso DNA e há uma parte dos restantes 98%, designados por DNA não codificante, que regula a atividade dos nossos genes e consequentemente, o bom funcionamento do nosso organismo. Aliás, a maioria das variantes no código do DNA associadas à diabetes tipo 2 encontram-se no DNA não codificante.

Utilizando o peixe-zebra como modelo animal, a equipa do i3S, liderada pelo investigador José Bessa, líder do grupo «Vertebrate Development and Regeneration», identificou várias sequências humanas não codificantes capazes de controlar a atividade de genes pancreáticos. Descobriu inclusivamente uma sequência capaz de funcionar como DNA codificante e simultaneamente como controlador da atividade de genes localizados no DNA não codificante.

Estudos prévios sugeriam que a variante associada à diabetes tipo 2 afetaria a forma de leitura do gene onde esta se encontra localizada, levando à perda de função deste gene. “O que conseguimos provar com esta investigação é que o aumento do risco de desenvolver diabetes pode estar relacionado, não com a perda de função deste gene, mas sim com o aumento da atividade da sequência que regula a atividade deste mesmo gene”, explica Ana Eufrasio, primeira autora do estudo.

“Nós mostramos que variantes no DNA não codificante têm um impacto importante na sua função reguladora da atividade de genes e que, em alguns casos, não existe uma fronteira clara entre estas funções e as do DNA codificante, desvendando um pouco mais a genética da diabetes tipo 2”, conclui José Bessa.

Note-se que a diabetes tipo 2, aquela que se desenvolve já em adulto, constitui uma das doenças mais comuns da atualidade, afetando mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se, aliás, que este número triplicará até 2035.

A patologia é parcialmente caracterizada pela disfunção de uma das duas componentes do pâncreas humano, a endócrina, que não produz insulina suficiente, e pode resultar em diversas complicações severas e, consequentemente, em morte prematura.