Fatima Pina, investigadora do INEB. é uma das coordenadoras do estudo.

Uma equipa de investigadores liderada por Sandra Alves e Fátima Pina, do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) da Universidade do Porto, publicou um artigo na última edição da revista Osteoporosis International, em que mostra que existe uma clara relação entre os vários períodos da história de Portugal e o risco diferencial de fratura do colo do fémur (anca).

Baseados em 77 mil registos de fracturas ocorridos entre 2000 e 2008, a equipa, que reúne elementos do INEB, da Faculdade de Medicina (FMUP) e do Instituto de Saúde Púbica da U.Porto (ISPUP), conseguiu separar os diferentes fatores que influenciam o risco de fratura da anca e determinar que o ano de nascença repercute-se de forma evidente mais tarde na vida.

A idade, a introdução de tratamentos ou medicamentos, entre outros, são fatores que influenciam o risco de ter uma fractura aquando de uma queda em idades mais avançadas. Sabe-se que o risco passa a ser mais elevado por volta dos 50 anos de idade e que a osteoporose, o enfraquecimento gradual do ossos, é determinante para que este aumento de risco ocorra. No entanto, a equipa do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB), liderada por Fátima Pina, conseguiu isolar um outro fator até agora mascarado pelo conjunto dos outros todos: o ano de nascimento.

Fátima Pina explica que “formamos a nossa massa óssea até cerca dos 30 anos de idade” e que a partir daí invertemos o processo passando a perder progressivamente aquilo que acumulamos. Por isso, explica a investigadora, será de entender que “exercício físico regular e alimentação adequada” ou, quando necessário a toma de medicamentos que travam o desgaste ósseo em idades avançada” sejam factores que diminuem o risco de fractura mas será de esperar, também, que “a qualidade do osso formado na juventude tenha uma influência forte nesse risco”.

Sendo que a qualidade da alimentação e a qualidade de vida, de uma forma geral, condicionam diretamente o desenvolvimento e dos ossos, será expectável que estes factores venham a influenciar o risco de fratura da anca em idades mais avançadas. “Mas”, como adianta a coordenadora dos estudo, “não prevíamos encontrar flutuações tão marcadas com base no ano de nascimento e que estas acompanhassem tão claramente os acontecimentos históricos a que a população portuguesa esteve sujeita”.

Flutuações do risco de fractura em função do ano de nascimento

Flutuações do risco de fractura em função do ano de nascimento

Este estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), vem demonstrar que opções e circunstâncias socioeconómicas de uma determinada época têm efeitos a longo prazo nas populações e nos custos acarretados para os sistemas de saúde. Segundo Fátima Pina, “o trabalho poderá servir de alerta para as questões de saúde pública e de bem estar social, mas transporta uma série de outras questões que devem ser analisada e discutidas”.

Na verdade, países como a Suécia, a Nova Zelândia ou Canadá, os três países onde estudos equivalentes foram efetuados, estas flutuações não se registam resultando, muito provavelmente, da estabilidade económica e do sistema de saúde que esses países alcançaram nos últimos 80 anos. Por esse motivo, e inferindo deste estudo, as opções atuais devem ser ponderadas de uma forma mais profunda e mais comprometida com o bem estar social que emergirá daqui a mais de cinco décadas.