Pretende ser um “guia, com informação científica fidedigna e acessível, para doentes e cuidadores sobre a doença nas suas mais variadas vertentes”. “É Cancro e Agora?” é o título do livro lançado no passado dia 9 de maio e que tem como coautor o médico António Araújo, Diretor do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) e do Serviço de Oncologia Médica do Hospital de Santo António (CHUdeSA).

Organizada em três partes, esta obra, resultado de mais de 30 anos de prática clínica, reúne informação sobre o cancro e responde às principais dúvidas que assolam um doente e familiares no momento do diagnóstico e ao longo dos tratamentos.

Aos leitores é ainda disponibilizada uma componente bibliográfica “que permite aprofundarem os seus conhecimentos sobre o que falámos nos capítulos anteriores, sempre com um discurso cientifico, objetivo, claro mas adaptado ao conhecimento do cidadão comum, tentando descomplicar”, apresenta António Araújo, que assina o livro em conjunto com a nutricionista clínica Ana Rita Lopes.

Um desafio que demorou três anos a ficar concluído, que pretende fazer face à informação pouco confiável do ‘dr. Google’: “hoje somos inundados com muito informação, que por vezes induz em erro, podendo criar falsas expetativas nos doentes e família. Assim, este livro serve precisamente para que as pessoas possam ter ao seu alcance toda uma informação fidedigna para compreenderem a sua situação”, esclarece o médico e professor do ICBAS.

A importância de desconstruir mitos e promover a literacia para a saúde

Num país com uma população pobre, “do ponto de vista financeiro, cultural e educacional”, os níveis médios de literacia para a saúde são tendencialmente baixos. Situação que, segundo António Araújo, urge inverter por via da aposta “na educação desde a infância, através da promoção de hábitos de vida saudáveis, mas também de conhecimento na área da saúde”;

Um processo que implica uma mudança de paradigma, e que por isso se prevê longo e moroso. No entanto, para o diretor do Serviço de Oncologia do Hospital de Santo António, é essencial começar desde já a derrubar alguns dos mitos relacionados com a doença oncológica. “Nos dias de hoje, ser diagnosticado com cancro não é uma sentença de morte, sendo possível viver mais tempo e com qualidade de vida”, adverte António Araujo.

“Cada vez mais somos capazes de diagnosticar o cancro numa fase inicial da doença e de propor protolocos de tratamento “com intenção curativa” ou, se a doença se encontra em fase mais avançada, tratamentos que são hoje para o doente muito menos intrusivos, agressivos e com poucos efeitos colaterais”, acrescenta.

Os desafios para os médicos e a importância da humanidade no exercício da medicina

O lançamento de  “É Cancro e Agora?” foi o mote para uma conversa transversal sobre o que é ser médico nos dias de hoje e os grandes desafios da profissão e do ensino da medicina.

Para António Araújo, um médico excelente não existe sem este “estar revestido de humanidade”, fator fundamental na criação da relação com o doente: “Um médico tem que ter quatro competências fundamentais –  na área do conhecimento, em termos assistenciais, muitas vezes ligados à especialidade; na área do ensino, porque muita da educação medica é feita através da experiência prática dos mais velhos; na área da investigação, porque devemos ter a capacidade e curiosidade para investigar e publicar resultados, de forma a fazer avançar o conhecimento e finalmente, mas não menos importante, na área da gestão. Todas estas competências fazem um bom médico, mas a excelência só se alcança com humanidade”, adverte.

Reforçando que o Médico deve saber “criar empatia e uma relação de confiança com o doente”, António Araújo enaltece a importância da formação de base na construção de um médico. E dá o ICBAS como exemplo:  “o Instituto tem desenvolvido ferramentas e investido na melhoria constante do programa curricular do Mestrado Integrado em Medicina, com o objetivo de formar ótimos profissionais”.

Ainda ao nível do ensino da Medicina, o médico destaca a importância de “não descurar o lado humano”, responsabilidade também dos docentes. A esse nível, “o ICBAS tem sido uma escola de pessoas, pessoas de corpo inteiro, que procura dar aos alunos esse grau de humanidade sem o qual não existe a excelência”, conclui .