O estudo internacional, em que participaram investigadores do ISPUP, foi publicado na “European Journal of Pediatrics”, e está disponível online.

A duração do aleitamento materno e a idade de introdução de outros alimentos, para além do leite, nos primeiros meses de vida, não parecem influenciar de forma consistente o desenvolvimento de obesidade, anos mais tarde, conclui um estudo internacional, em que participaram investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

“De acordo com alguns estudos, uma maior duração do aleitamento materno parece prevenir o desenvolvimento de obesidade infantil, mas outros trabalhos falham em mostrar esse efeito protetor“, refere Andreia Oliveira, uma das investigadoras do ISPUP que participa no estudo, juntamente com Carla Lopes. “Como as investigações conduzidas até à data mostram resultados inconsistentes em diferentes populações, decidimos avaliar o efeito que a duração do aleitamento materno e a idade de introdução de alimentos complementares ao leite podem ter, mais tarde, no crescimento e na acumulação de gordura corporal, em crianças de quatro estudos de coorte Europeus”, menciona.

O estudo, publicado na revista “European Journal of Pediatrics”, e desenvolvido no âmbito do projeto europeu HabEat, juntou dados de quatro coortes, que acompanham o crescimento e desenvolvimento de crianças, desde o nascimento: Geração XXI (Portugal); ALSPAC (Reino Unido); EDEN (França); e EuroPrevall (Grécia). Com a junção de populações muito diversificadas e com diferentes níveis de exposição ao aleitamento materno, os investigadores pretendiam chegar a resultados mais robustos quanto a uma possível associação entre as práticas de alimentação infantil e o crescimento e obesidade.

Foram avaliadas as práticas de alimentação infantil nos primeiros meses/anos de vida assim como o peso, a estatura, o índice de massa corporal e a quantidade de massa gorda aos 4-5 anos de idade nos quatro estudos de coorte e também em crianças mais velhas e adolescentes na coorte do Reino Unido.

Comparando os resultados das quatro coortes, os autores não encontraram evidência de uma associação consistente entre a duração do aleitamento materno e a introdução precoce de diversificação alimentar no crescimento e na obesidade infantil, não se confirmando, assim, o efeito protetor que outros estudos apontam.

Contudo, analisando os estudos individualmente, verificou-se que as crianças da coorte francesa que foram amamentadas por períodos inferiores a 6 meses eram mais pequenas, aos 5 anos, do que aquelas que foram amamentadas durante mais tempo. No entanto, tal não se constatou na coorte do Reino Unido, onde as crianças apresentaram estaturas superiores. Na coorte ALSPAC (Reino Unido), estes valores podem explicar-se pelo facto de “se introduzirem fórmulas proteicas muito cedo para substituir o leite materno. Quando as crianças começam a consumir quantidades excessivas de proteína mais cedo, crescem mais rápido e o rápido crescimento durante os primeiros meses de vida pode estar associado, mais tarde, a obesidade”, explica Andreia Oliveira.

De mencionar, ainda, que as crianças francesas que consumiram novos alimentos, para além do leite, antes dos 4 meses, apresentaram maior acumulação de gordura aos 5 anos de idade, mas tal não se observou nas crianças das outras coortes.

“Não conseguimos encontrar uma associação consistente entre uma reduzida duração do aleitamento materno e a introdução precoce de outro tipo de alimentos com parâmetros como a estatura, o excesso de peso/obesidade e a quantidade de massa gorda, mesmo juntando dados de países diferentes. Isto leva-nos a concluir que existirão outros fatores que podem ser mais relevantes para explicar os elevados níveis de obesidade infantil”, diz a investigadora, que acrescenta que “a heterogeneidade de resultados reportados na literatura sobre o efeito protetor do aleitamento materno, pode dever-se aos diversos níveis de exposição de cada população”.

O estudo intitulado “The effect of early feeding practices on growth indices and obesity at preschool children from four European countries and UK schoolchildren and adolescents.” pode ser consultado online, aqui.