Os professores Raquel Duarte (ICBAS/ISPUP), Milton Severo (ICBAS/ISPUP), Henrique Barros (ISPUP/FMUP) e Óscar Felgueiras (FCUP) foram agraciados, no passado dia 9 de março, com a Medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde – Grau Ouro, pelo papel relevante que desempenharam na resposta à pandemia de Covid-19.

A distinção foi atribuída pela Ministra da Saúde, Marta Temido, como forma de reconhecimento pelo trabalho dos quatro especialistas no aconselhamento técnico prestado ao Ministério da Saúde durante a pandemia, em especial nas áreas da epidemiologia, saúde pública e ciências sociais. Um contributo que se revelou essencial na definição de políticas para travar a situação pandémica.

A Medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde – Grau Ouro destina-se a galardoar pessoas, organismos ou instituições que tenham praticado atos de abnegação, caridade, altruísmo ou beneficência, ou tenham prestado serviços relevantes à saúde pública ou à assistência social.

A entrega das medalhas decorreu nas instalações do INFARMED, em Lisboa. Para além dos quatros docentes da U.Porto, foram também distinguidos os especialistas Ana Paula Rodrigues, Ausenda Machado, Baltazar Nunes, Carla Nunes, Fátima Ventura, João Paulo Gomes, Manuel Carmo Gomes, Pedro Pinto Leite e Válter Fonseca.

    “Um reconhecimento do trabalho feito”

    Com um vasto curriculum nos domínios da atividade clínica, docência e de investigação em Saúde Pública, Raquel Duarte, 54 anos, é Professora Associada do Departamento de Estudos de Populações no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), investigadora no Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP) e médica pneumologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Atualmente, desempenha ainda os funções de Presidente da “Europe Region Officers of the International Union Against Tuberculosis and Lung Disease”, Secretária da Assembly 10, Infectious Diseases, da European Respiratory Society, Coordenadora do Centro de Referência Regional para a Tuberculose Multi-resistente, e Coordenadora da Unidade de Investigação Clínica da ARS Norte,

    Para a antiga Diretora do Programa Nacional para a Tuberculose da DGS e ex-Secretária de Estado da Saúde (2018-2019), este agraciamento por parte do Ministério da Saúde constitui por isso “um reconhecimento do trabalho feito ao longo dos anos”, destacando que este foi um “trabalho de equipa”.

    Segundo Raquel Duarte, o processo pandémico evidenciou “a necessidade de preparação, de inclusão das várias áreas do saber no processo de decisão, do desenvolvimento da motivação da população, bem como do aumento do seu grau de literacia e, acima de tudo, é preciso disseminar a ideia de que ninguém pode ficar para trás. O problema de um país, de um grupo, rapidamente se transforma num problema de todos”.

    A docente do ICBAS acrescenta ainda que, apesar de se ter publicado imenso, de se ter investido fortemente em todas as áreas de investigação – do diagnóstico ao tratamento – o desafio maior foi “a fase inicial da pandemia que nos apanhou desprevenidos. Fomos aprendendo com o tempo a conhecer o agente infecioso, os meios complementares de diagnóstico, as suas forças e fraquezas, as potencialidades dos fármacos e das vacinas e a respetiva resposta imunitária”.

    Relativamente às “lições” que a pandemia deixa para o futuro, Raquel Duarte acredita que a Ciência, a Investigação e o Ensino das Biomédicas saem deste processo com a clara “necessidade de trabalharmos em conjunto, de incluirmos os peritos nas diferentes áreas no processo de apoio à decisão e no processo da literacia da população”.

    Os premiados

    Raquel Barros entre os também distinguidos Henrique Barros  e Milton Severo . (Foto: DR)

    Da Universidade para a linha da frente

    Um nome que se tornou familiar dos portugueses ao longo dos últimos dois anos foi o de Henrique Barros, Professor Catedrático de Epidemiologia da Faculdade de Medicina (FMUP) e Presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

    Atual Presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros, 64 anos, é membro da Association of Schools of Public Health in the European Region (ASPHER) e Presidente cessante da IEA – International Epidemiological Association. Anteriormente, foi membro do Conselho Científico para as Ciências da Saúde da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2004-12) e Coordenador Nacional para a Infeção VIH/Sida (2005-11).

    Ao longo da sua carreira, tem desenvolvido trabalho de investigação em projetos nacionais e internacionais, em áreas como a epidemiologia clínica e perinatal, as doenças cardiovasculares, infeciosas e o cancro, do qual resultaram centenas de publicações científicas.

    Trabalhou ainda na criação dos mestrados de Saúde Pública, Epidemiologia, Educação para a Saúde e Sociologia e Saúde da U.P, bem como na criação dos programas de doutoramento em Saúde Publica da Universidade do Porto e em Saúde Pública Global.

    É também na área da Saúde Pública que se tem destacado o bioestatístico, epidemiologista e psicometrista Milton Severo, Professor Associado convidado do ICBAS e e Investigador Sénior na Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP.

    Mestre em Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão pela Faculdade de Economia da U.Porto (FEP) e Doutorado em Saúde Pública pela FMUP, Milton Severo é o atual coordenador do Laboratório “Trajetórias e modelação conjunta aplicadas a métricas de saúde”, que integra o laboratório associado para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR).

    Autor de centenas de publicações científicas em revistas nacionais e internacionais, os seus interesses de investigação incidem sobretudo sobre a análise estatística aplicada com variáveis latentes, a epidemiologia e educação médica.

    Medir o pulso à pandemia

    Da lista de galardoados com a Medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde – Grau Ouro há ainda a destacar o nome de Óscar Felgueiras , docente e investigador da Faculdade de Ciências (FCUP) que tem vindo a dedicar-se, desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020, ao acompanhamento da evolução da epidemia em Portugal, em particular no Norte do país, integrando a equipa da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte).

    Licenciado em Matemática pela FCUP (1998), Óscar Felgueiras partiu para os Estados Unidos, onde concluiu o mestrado (2003) e o doutoramento (2008) pela Universidade do Michigan – Ann Arbor. Seguiu-se o regresso a Portugal e à Faculdade de Ciências, onde dá aulas há mais de uma década.

    Membro do Centro de Matemática da U.Porto, este especialista em estatística e modelação matemática tem também vindo a trabalhar na área das doenças infeciosas, nomeadamente no estudo estatístico de doenças como a tuberculose.

    Os premiados

    Óscar Felgueiras (à direita na foto) tem-se destacado no estudo da evolução da epidemia em Portugal, ao serviço da ARS Norte. (Foto: DR)