Quais os alimentos que devemos comprar? Que quantidades são necessárias para um período de isolamento de 14 dias? Os alimentos que compramos podem infetar-nos com o vírus? Estas e outras questões servem de base ao Manual de Orientações na área da alimentação, publicado pela Direção-Geral da Saúde.

O documento, preparado por uma equipa onde se incluem docentes da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP), em colaboração com a equipa do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), indica algumas das principais recomendações para gerir o nosso dia-a-dia alimentar.

Pedro Graça, diretor da FCNAUP e um dos docentes envolvidos no projeto, realça importância de “criar o hábito de preparar a lista de compras, de forma a promover as compras responsáveis”. O objetivo passa por “combater o medo que levou o país a açambarcar”, afirma, em declarações à TSF.

O que devo comprar para o período de isolamento?

Numa altura em que é recomendado o isolamento social, as idas ao supermercado são menos frequentes e, por isso, as compras devem ser feitas com maior planeamento. Para planear, os nutricionistas recomendam que seja feita uma lista de compras organizada, verificando sempre os alimentos que temos disponíveis e o espaço de armazenamento, e prever as refeições para os próximos tempos.

Segundo os especialistas, ” é importante garantir a disponibilidade de alimentos que permita assegurar as necessidades alimentares por um período mais longo de tempo”, ao mesmo tempo que é fundamental adotar um “comportamento de compra que permita a boa gestão dos stocks por parte dos supermercados”. Contrário, portanto, ao “açambarcamento de produtos alimentares” que pode  pode “ser um estímulo ao consumo alimentar excessivo e de má qualidade nutricional”.

Neste sentido, o manual indica também quais os produtos a privilegiar, especialmente durante este período. Os produtos frescos e os alimentos com prazo de validade mais longo, como enlatados, devem ser incluídos na lista de compras.

A Direção-Geral da Saúde desenhou um Kit Alimentar para os profissionais de saúde e outros profissionais que prestam apoio na área alimentar a pessoas que se encontram em vigilância ativa e cujo isolamento preventivo por um período de 14 foi recomendado. (FONTE: Manual de Orientações da DGS)

Como fortalecer o sistema imunitário?

Não existe, à data, “evidência científica é escassa no que diz respeito à relação entre alimentação e o reforço do nosso sistema imunitário, não existindo nenhum alimento específico ou suplemento que possa prevenir ou ajudar no tratamento da COVID-19”. É, no entanto, recomendado que seja adotado um estilo de vida saudável, especialmente para “adultos e crianças que estão em isolamento devido à COVID-19, pois são muitos os estímulos para um consumo alimentar excessivo”.

Desde o consumo de frutas e hortícolas frescas, articuladas com enlatados, preferencialmente com pouco sal, até à manutenção da rotina e horários das refeições, os especialistas indicam seis passos para uma alimentação saudável em tempos de COVID-19.

A hidratação ao longo do dia (com bebidas sem açúcar) e o reforço da vitamina D são fundamentais. Dentro das medidas de isolamento necessárias, é importante termos alguns minutos de exposição solar diária, de “cerca de 20 minutos por dia, pelo menos na face, antebraços e mãos, entre as 12h00 e as 16h00”, indicam os especialistas.

Que cuidados ter numa ida ao supermercado?

De acordo Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), “não existe, até ao momento, evidência de qualquer tipo de contaminação através do consumo de alimentos cozinhados ou crus”. No entanto, de acordo com os autores do guia, “a manutenção e o reforço das boas práticas de higiene e segurança alimentar durante a manipulação, preparação e confeção dos alimentos é recomendada”.

A lavagem das mãos frequente, a desinfeção das bancadas e a cozedura às temperaturas adequadas são três das recomendações dadas. Além disso, no guia é também indicado que deve ser evitada a partilha de comida ou objetos entre pessoas durante a sua preparação, confecção e consumo.

Recomendações para lactantes ou idosos

O Manual de Orientações dedica dois capítulos a dois grupos especiais no contexto da COVID-19: mães a amamentar e idosos, um dos grupos de risco.

De acordo com os especialistas, “até ao momento, não há evidência suficiente e inequívoca de que o vírus SARS-CoV2 possa ser transmitido pelas mães com COVID-19 através do leito materno”. Neste sentido o guia apresenta algumas indicações no que diz respeito às boas práticas de higiene e de precaução durante o processo de amamentação.

Já aos idosos, a Direção-Geral da Saúde deixa algumas recomendações para garantir a manutenção do estado nutricional. De acordo com os autores, “um pior estado nutricional associa-se a um pior prognóstico e a um risco aumentado de complicações em caso de doença aguda e, consequentemente está associada a um maior risco de mortalidade”.