As pessoas com um menor rendimento disponível são aquelas que mais desejam fazer testes de diagnóstico da infeção por COVID-19 e de imunidade. Por outro lado os trabalhadores da saúde são quem menos tem intenção de fazer o teste de pesquisa do vírus e são os indivíduos mais velhos e com maior rendimento que apresentam maior disponibilidade para pagar os testes.

Estes são alguns dos resultados mais recentes dos “Diários de uma Pandemia”, um estudo conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal PÚBLICO, e que está, desde o passado dia 23 de março, a estudar a evolução da vida dos portugueses, ao longo da pandemia de Covid-19.

Os dados agora divulgados incluem as respostas de 5085 participantes que, entre os dias 1 e 18 de maio de 2020, responderam a questões sobre a intenção de fazer testes de diagnóstico (pesquisa do vírus com zaragatoa) e de imunidade (deteção de anticorpos).

Entre os inquiridos, um em cada quatro (27,5%) manifestou a intenção de fazer o teste de imunidade. Menos frequente foi a vontade de realizar o teste de diagnóstico, com um em cada sete indivíduos (14,1% da amostra) a indicar planear fazê-lo.

Menos rendimentos, maior intenção

No estudo, as pessoas com um menor rendimento disponível foram as que mais indicaram a intenção de fazer testes, tanto de pesquisa do vírus como de imunidade. Em particular, no caso do teste de diagnóstico de infeção, a proporção de participantes com a intenção de o fazer, “foi três vezes maior entre os que tinham rendimento insuficiente quando comparados com os que tinham rendimento confortável”, lê-se no relatório produzido.

Também no que toca ao plano de fazer o teste de imunidade, “a intenção de fazer teste foi o dobro entre os que tinham rendimento insuficiente”, refere o documento.

Para Raquel Lucas, investigadora da equipa dos “Diários de uma Pandemia”, “a maior intenção de fazer testes entre os indivíduos com menor rendimento poderá relacionar-se com a sua maior exposição ao vírus, dado que, durante o estado de emergência, foram estes os profissionais que mais estiveram a trabalhar fora de casa”.

Diferenças entre setores de atividade profissional

Considerando os setores de atividade profissional e a intenção de fazer testes, observou-se que, dos participantes que estavam empregados, os que mostraram maior vontade em fazer o teste de pesquisa do vírus pertenciam aos setores do alojamento, restauração e similares, seguidos dos setores primário e secundário. A intenção de fazer este teste foi notoriamente mais baixa entre os profissionais da área da saúde.

“Apesar de os profissionais de saúde estarem mais expostos ao risco, a baixa intenção que manifestaram em fazer o teste, poderá explicar-se pelo equipamento de proteção individual que utilizam em contexto de trabalho, o qual lhes confere maior segurança e proteção para não contrair a infeção”, explica a investigadora do ISPUP.

Relativamente ao teste de imunidade (anticorpos), notou-se não existirem grande diferenças quanto à intenção de fazer este teste entre os profissionais dos vários setores de atividade. De sublinhar igualmente que houve um maior número de profissionais de saúde com intenção de fazer o teste de deteção de anticorpos, provavelmente, para perceberem se já tiveram contacto com o vírus e se têm já alguma imunidade.

Os dados do relatório mostram também que são as pessoas mais velhas (com 60 ou mais anos de idade) e com rendimento mais elevado que têm maior disponibilidade para pagar os testes de deteção do vírus e de imunidade.

Continue a participar nos “Diários de uma Pandemia”!

O estudo “Diários de uma pandemia” está a recolher informação sobre o modo como os Portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal. Todas as semanas, novos resultados são divulgados.

Para produzirmos conhecimento científico de relevo nesta área, precisamos da sua colaboração. Por isso, continue a participar, dedicando 5 a 10 minutos do seu tempo para responder às questões do nosso inquérito, que, desde o dia 25 de maio, passou a ser semanal.

Se ainda não participou no estudo “Diários de uma pandemia”, pode fazê-lo aqui. Pode também consultar o relatório relativo aos resultados divulgados hoje, aqui, e os resultados referentes às semanas anteriores do estudo, aqui.