Todos os dias, são realizados em Portugal cerca de seis testes de COVID-19 por cada mil pessoas. Já a Linha SNS24 é procurada, sobretudo, por mulheres com mais de 60 anos de idade. E se são os mais jovens a manifestar com maior frequência os sintomas associados à doença, os homens mais velhos são aqueles que mais saem de casa para passear ou ir às compras

Estes são alguns alguns dos primeiros resultados dos “Diários de uma pandemia”, um estudo liderado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC). A investigação, levada a cabo, em parceria com o jornal PÚBLICO, está a convidar os cidadãos a responderem diariamente a um conjunto de perguntas, que visam ajudar a compreender a evolução da vida dos Portugueses, ao longo da pandemia de COVID-19.

Na semana de 23 a 30 de março de 2020, a primeira do estudo, participaram 6791 pessoas, que preencheram 23.254 questionários. Estes cidadãos, com idades compreendidas entre os 16 e os 89 anos de idade, forneceram informação sobre o modo como atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da epidemia em Portugal. E estas foram as conclusões

Seis testes por cada mil pessoas

Nesta primeira semana, foi então possível perceber que têm sido realizados diariamente cerca de seis testes de COVID-19 por cada mil pessoas e diagnosticados três novos casos de infeção.

As pessoas que tiveram contacto com um caso confirmado de infeção foram as que mais realizaram testes (165 em cada 1.000), seguindo-se os participantes que contactaram a linha SNS24 (152 em cada 1.000) e os que reportaram, pelo menos, um dos sintomas associados à COVID-19 (tosse seca, febre, dificuldade respiratória, entre outros).

De referir que a frequência de novas infeções foi mais elevada nos homens com idades entre os 40 e os 59 anos (6.4 a cada 1.000) e nas mulheres com 60 ou mais anos (4,8 em cada 1.000).

Quem recorre mais a Linha SNS24?

Os investigadores verificaram que a utilização mais frequente de cuidados de saúde à distância, como a Linha SNS24, e presenciais, como os cuidados de saúde primários e as farmácias, foi feita por mulheres com mais de 60 anos de idade.

O estudo adianta também que os participantes das Regiões Norte e Centro do país contactaram de forma mais frequente o médico de família do que os residentes das Regiões Autónomas e do Alentejo e Algarve. No que respeita a linha SNS24, o contacto foi inferior nos residentes do Alentejo e nos Açores, seguindo-se a região Centro do país.

E os que mais saem de casa são…

Na primeira semana dos “Diários de uma pandemia” constatou-se igualmente que os cidadãos que têm uma idade mais avançada referem também ter um menor número de contactos pessoais fora do agregado familiar, incluindo visitas a casa de amigos ou família, e menos contactos com pessoas que saibam ter suspeita de infeção pelo novo coronavírus.

No entanto, são dos que mais reportam deslocações a estabelecimentos comerciais e saídas de casa para caminhar ou passear animais de estimação. Isto é evidente sobretudo nos homens.

Estas diferenças não existem apenas entre homens e mulheres, mas também entre regiões. Verificou-se que as idas ao supermercado foram mais reportadas pelos inquiridos residentes na Região Autónoma dos Açores e no Alentejo.

Pessoas com sintomas fazem menos deslocações

Nesta primeira semana de análise, verificou-se que a frequência de sintomas associados à COVID-19 tem sido mais elevada nos mais jovens.

Os cidadãos que referiram ter pelo menos um sintoma da doença foram os que disseram com mais frequência ter trabalhado fora de casa, ter usado transportes coletivos de passageiros e ter contactado com cinco ou mais pessoas fora do agregado familiar, incluindo contactos de maior risco (estivera com estes contactos mais de 15 minutos e a menos de 2 metros de distância).

Já as pessoas com sintomas dizem ter feito menos deslocações não relacionadas com a atividade laboral, como visitas a casa de amigos ou família, idas a estabelecimentos comerciais e outras deslocações com motivos não comerciais ou profissionais.

Continuar a participar é fundamental

Divulgados os resultados da primeira semana do estudo, os investigadores do ISPUP e do INESC TEC continuam a trabalhar na análise das respostas diárias dos participantes. Semanalmente, novos resultados vão ser divulgados.

Para se conseguir produzir conhecimento científico numa área com grande impacto na comunidade é necessário contar com a participação de todos os cidadãos. E, por isso, os investigadores apelam: “Continuem a participar!”.

Responder ao inquérito “Diários de uma pandemia” “é contribuir para sabermos como agir melhor, com o objetivo de diminuir o impacto negativo da epidemia em Portugal. É um contributo que se partilha com toda a sociedade e, em última análise, um gesto solidário para com aqueles que nos são mais queridos”, sublinham os investigadores

Se ainda não participou no estudo “Diários de uma pandemia”, pode fazê-lo aqui.