Do Sapal de Castro Marim à Barra do Alvor, das margens do rio Sado, entre Setúbal e Alcácer, à Lagoa de Óbidos e daí, remando a Norte, chegamos à Ria de Aveiro. Seguimos viagem pelos carris que acompanham a linha do Douro até Caldas de Aregos e, pelo caminho, claro está, não poderiam faltar, do céu vemos ainda as terras vinhateiras do Alto Douro… Sem a ajuda de legendas, dificilmente conseguiria identificar qualquer uma das cerca de 20 fotografias aéreas que integram o “roteiro” de detalhAR, o nome da exposição de Francisco Piqueiro, docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), patente desde o passado dia 19 de julho, na Casa Comum (Reitoria) da U.Porto.

Pela paleta de cores, tonalidades e forma com que se espraiam pela superfície da imagem, julgaria haver mão humana naquelas opções cromáticas. Sem contextualização, ou se nunca tivesse visto nenhuma exposição com assinatura de Francisco Piqueiro, o mais provável seria pensar que se trataria de um artista plástico. Só que não. É um engenheiro com paixão pelo voo aéreo que assina o trabalho. E a harmonia entre as formas e as cores, é mesmo a natureza que constrói.

(Foto: DR)

É a ilusão que acontece

O que vemos são pontos brancos numa superfície escura? Não. São flamingos junto à Ponte Vasco da Gama. É um caminho ou uma vedação que traça a meio um campo verde? Não. É uma linha de comboio. São juntas entre os azulejos? Não. São os canais que separam as salinas. O acesso à informação, acentua o franzir do sobrolho. Mesmo sabendo que se trata de um detalhe de uma fotografia aérea, a emoção tende a embrulhar a razão, numa espécie de lençol de incredulidade.

Quando estamos a alguns metros de altitude, “a ilusão acontece”, explica o professor da FEUP. E esclarece: “Normalmente a fotografia aérea tem muita informação. É explícita. Neste caso, o objetivo foi fotografar o detalhe do território e, quando nos aproximamos, percebemos que há ainda outros níveis de detalhe”.

Existe realmente, assume Francisco Piqueiro, a “intenção de tornar estas imagens não imediatamente identificáveis”. Ao focar no detalhe, anulam-se os elementos decifráveis e promove-se a subjetividade. Serão “linhas de alta tensão, canais? Os elementos deixam de ser referenciáveis com o território e cada um faz a sua leitura”.

Algumas fotografias “mostram coisas estranhas que custa a aceitar que existam. Pelas cores e aspeto pictórico parecem pinturas”. É graças às legendas que poderemos localizar a imagem no território nacional .

Resistindo ou respondendo aos pontos de interrogação, poderemos, só, usufruir da beleza e elegância, a abrangência e a plenitude deste mergulho em território nacional.

(Foto: DR)

Engenheiro e fotógrafo há 20 anos

Licenciado e Doutorado em  Engenharia Civil Hidráulica pela FEUP, Francisco Piqueiro é Professor Auxiliar de Hidráulica da mesma faculdade. Diz-se “pouco lúcido” quando fala de aviões e foi através desta paixão que, há 20 anos, descobriu outra: a fotografia aérea. Nesta inclinação para “as coisas do ar”, consegue associar a fotografia aérea à aviação e ao Território, ao Ambiente, à Engenharia e à Hidráulica em particular.

Ah! Não esqueça de procurar a “fatia de queijo verde”. Apenas uma dica: o que vê, está relacionado com a conduta de um sistema de rega que vai rodando. O resto, é ver e surpreender.

Com entrada livre, exposição detalhAR ficará patente até 25 de setembro, nas Galerias da Casa Comum. Pode ser visitada de segunda a sexta feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30, e aos sábados das 15h00 às 18h00.