Uma equipa liderada por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), na Universidade do Porto, descobriu Bário na atmosfera dos gigantes gasosos ultra-quentes WASP-76 b e WASP-121 b, dois exoplanetas localizados a 640 e 850 anos-luz da Terra, respetivamente.

“A parte confusa e contraintuitiva é: Porque é que estes elementos pesados existem na alta atmosfera destes planetas”, questiona Tomás Azevedo Silva, investigador do IA/U.Porto e primeiro autor do artigo publicado esta quarta-feira na revista Astronomy & Astrophysics.

Os exoplanetas WASP-76 b e WASP-121 b não são exoplanetas “normais”. Ambos estão classificados como júpiteres ultra-quentes, pois são gigantes gasosos semelhantes ao nosso planeta Júpiter, mas que orbitam tão próximos das suas estrelas-mãe, que têm temperaturas a rondar os 2000 °C. Isto confere aos dois planetas características bastante exóticas – no WASP-76 b, por exemplo, os investigadores desconfiam que chova Ferro.

“Isto foi uma ‘descoberta acidental’”, revela Azevedo Silva, estudante de doutoramento no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da U.Porto (DFA/FCUP). “Não estávamos à procura, nem sequer à espera de encontrar bário e tivemos que confirmar que esta deteção vinha efetivamente do planeta, uma vez que nunca tinha sido observado antes em nenhum exoplaneta”, acrescenta.

Representação artística da atmosfera do exoplaneta WASP-76b, onde se julga chover ferro. (Crédito: ESO/M. Kornmesser)

A equipa ficou surpreendida por descobrir bário, que é 2,5 vezes mais pesado do que o ferro, na alta atmosfera destes exoplanetas. “Dada a elevada gravidade dos planetas, esperaríamos que elementos pesados como o bário caíssem rapidamente nas camadas mais inferiores da atmosfera”, explica Olivier Demangeon (IA & DFA-FCUP), coautor do artigo.

A deteção de bário nestes dois júpiteres ultra-quentes sugere que esta categoria de exoplanetas pode ser ainda mais estranha do que se pensava. Nos nossos céus vemos bário ocasionalmente, na forma de fogo de artifício verde.

A questão a que a equipa irá agora tentar responder é qual o processo natural que faz com que um elemento tão pesado possa existir nas altas altitudes destas atmosferas. “De momento, não temos a certeza que mecanismos são esses”, acrescenta Demangeon.

Portugal na linha da frente da “caça” aos exoplanetas

A análise da composição da atmosfera destes dois exoplanetas só foi possível graças à extrema precisão do espectrógrafo ESPRESSO, instalado no telescópio VLT do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Cerro Paranal (Chile).

A participação do IA no ESPRESSO faz parte de uma estratégia mais abrangente para promover a investigação em exoplanetas em Portugal, através da construção, desenvolvimento e definição científica de vários instrumentos e missões espaciais, como a missão Cheops (ESA), já em órbita.

Esta estratégia irá continuar durante os próximos anos, com o lançamento do telescópio espacial PLATO (ESA), a missão Ariel (ESA) e a instalação do espectrógrafo ANDES, no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO)