Equipa liderada por Hélder Maiato demonstrou que as células animais são capazes de se dividir sem a intervenção de centrossomas.

Uma colaboração luso-americana, liderada por Hélder Maiato, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), da Universidade do Porto, demonstrou que as células animais são capazes de se dividir sem a intervenção de centrossomas, usando os mesmos mecanismos moleculares recrutados quando estes estão presentes. Esta descoberta vem apoiar a ideia de que, ao contrário do que se pensava, os centrossomas não comandam a divisão das células animais, apenas aproveitando este processo para se distribuírem entre as células filhas.

Resultado de sete anos de investigação realizada em Portugal e, parcialmente, na Universidade da Califórnia, São Francisco, o artigo recentemente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences obriga a repensar um dos dogmas do processo da divisão das células. Desde há muito se pensava que as células animais, ao contrário das células das plantas e bactérias, utilizam centrossomas para dar corpo ao fuso mitótico, a estrutura organizadora da divisão das células. Considerava-se que os centrossomas eram imprescindíveis e estruturantes na formação desse fuso nas células animais e que comandavam todo o processo. No entanto, “algumas experiências realizadas recentemente, mostraram que, de alguma forma, as células conseguem contornar a ausência dos centrossomas e chegar ao fim da divisão”, explica Helder Maiato.

Fuso Mitótico de uma célula de Drosophila em divisão sem centrossomas.  Cromossomas marcados a azul e microtúbulos marcados a dourado. (Imagem: Sara Moutinho-Pereira/César Ribeiro)

O investigador adianta ainda que, “com este trabalho provámos, recorrendo ao estudo do genoma completo da Drosophila, que a maquinaria molecular utilizada pela célula é rigorosamente a mesma, quer na ausência, quer na presença desses organelos”. Ou seja, utilizando a mosca da fruta com cerca de 15000 genes, 60% dos quais estão presentes no homem, estes investigadores propõem que a célula segue sempre a sua mesma programação para se dividir e que os centrossomas apenas se associam para beneficiarem do processo, já que eles próprios também precisam de se dividir. Para os autores, a presença desses organelos passou, em determinada altura durante a evolução a ser utilizada no processo de divisão, já que a aceleram, sem contudo os tornar indispensáveis no processo.

Sara Moutinho Pereira, primeira autora do trabalho, explica que “foram descobertos oito novos genes, agora associados à lista dos cerca de 200 genes já conhecidos, envolvidos na formação do fuso mitótico”, demonstrando a complexidade do processo.

Para Helder Maiato, os centrossomas, que são “essenciais para a organização de outras estruturas celulares como cílios e flagelos”, indispensáveis na reprodução, “aproveitaram a boleia dos cromossomas para se dividirem entre as células filhas” e, lentamente, “acabaram por ser integrados no processo”. Uma vez presentes, eles dominam o processo e poderão estar mesmo na origem de anomalias e na base de vários tipos de cancro em humanos.