Chama-se Desarquivo e trata-se de uma ferramenta que permite pesquisar por entidades – pessoas, organizações ou locais – e identificar ligações, a partir de notícias publicadas em jornais online ao longo dos últimos 20 anos. Da autoria de Miguel Ramalho, antigo aluno do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da FEUP, o projeto valeu-lhe um galardão no valor de dez mil euros, atribuído pelo Prémio Arquivo.pt 2020.

Este concurso, que premeia projetos que demonstrem a utilidade e a importância do serviço Arquivo.pt, uma infraestrutura de investigação de pesquisa e acesso a páginas da web portuguesa arquivadas desde 1996, foi a oportunidade ideal para Miguel Ramalho colocar em prática a ideia que foi sendo desenvolvida durante a escrita da tese de Mestrado, em fase de confinamento.

Ferramenta de pesquisa gratuita e acessível a todos

“Depois de ver os resultados da investigação do International Consortium of Investigative Journalists sobre o Luanda Leaks e a forma como tinham conseguido organizar e analisar tanta informação, pensei que, com mais uma ou duas coisas que já conhecia, como técnicas de reconhecimento de entidades, e um conjunto de documentos de igual dimensão relevantes no contexto português, se podia fazer algo interessante e abrangente. Aí entrou o Arquivo.pt e os anos e anos de páginas web que tem à disposição do público,” esclarece Miguel Ramalho.

Sendo uma ferramenta totalmente gratuita que pode ser acedida por jornalistas, investigadores ou pelo comum cidadão, “Desarquivo” é muito mais do que um simples motor de busca de notícias. Com o intuito de “democratizar e complementar o jornalismo de investigação e a verificação de factos”, é uma ferramenta de pesquisa cujos resultados poderão ser apresentados em formato de grafo ou de rede de relações, permitindo estabelecer ligações entre entidades e explorar de forma dinâmica a informação histórica preservada da Web pelo Arquivo.pt.

Demonstração de uma rede de ligações na ferramenta “Desarquivo”.

“Aprendi a aprender”

Miguel Ramalho recorda a importância da sua passagem pela FEUP, onde chegou até a frequentar o primeiro ano do Mestrado Integrado em Engenharia e Gestão Industrial, tendo mais tarde enveredado pelo curso de Informática e Computação devido à sua paixão pela programação falar mais alto, naquela que “foi uma das decisões mais bem tomadas da minha vida”, confessa.

“A FEUP foi um local onde, mais do que tudo, aprendi a aprender”, afirma Miguel, tendo adquirido conhecimentos imprescindíveis para a realização do seu mais recente projeto, tais como “diversas técnicas de extração de dados e de processamento texto, assim como conhecimentos de grafos, de desenvolvimento web, de administração de sistemas e, até, de design”.

Com o título de Mestre pela FEUP e um prémio de dez mil euros na mão, Miguel ruma ao início da sua carreira profissional, como Engenheiro de Software na Transferwise, não descurando a sua vontade de aprimorar o “Desarquivo” em termos de “arquitetura e de funcionalidades”: os próximos passos vão contemplar “a adição de mais fontes de informação fidedignas”, assim como “novas formas de anotar e encontrar ligações relevantes”, explica.

Apesar de já ter conquistado vários prémios com apenas 24 anos, Miguel Ramalho sabe que não quer ficar por aqui: “Acho que ainda tenho muito para aprender, mas gostaria de poder continuar a orientar o que vou aprendendo para causas com as quais me identifico, mesmo que no meu currículo continue a ler-se “Engenheiro de Software”.”