A depressão foi uma das principais causas de internamento nos serviços de Psiquiatria dos hospitais públicos portugueses no período entre 2008 e 2015, indica um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), do CINTESIS e do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS).

O grupo de investigação contabilizou um total de 28.569 hospitalizações em adultos, num período de oito anos. O objetivo do estudo, publicado na revista científica Psychiatric Quarterly, foi o de analisar os internamentos por depressão em hospitais públicos, além de caracterizar estes doentes do ponto de vista sociodemográfico e clínico, partindo de dados administrativos de todos os hospitais públicos de Portugal Continental.

A depressão foi responsável por uma em cada cinco hospitalizações por doença mental a nível nacional. Ou seja, no período considerado, mais de 19% dos internamentos (episódios com duração superior a 24 horas) em hospitais públicos foram atribuídos a perturbação depressiva, classificada de acordo com a classificação internacional de doenças ICD-9-CM.

A duração dos internamentos rondou os 13 dias, sendo mais elevada nos casos de depressão major. Cada episódio teve um valor estimado de cerca de 2.600 euros, o que correspondeu a um custo a rondar os 74,4 milhões de euros em apenas oito anos.

Março foi o mês em que se registaram mais casos de hospitalização por depressão no nosso país (9%) e dezembro, pelo contrário, o mês em que ocorreram menos internamentos por esta causa (7%).

Mulheres mais afetadas e necessidade de maior investimento

As mulheres constituíram a maioria dos doentes internados por depressão, independentemente do tipo de depressão, totalizando cerca de 70% de todos os episódios. Quanto à idade, os doentes tinham 51 anos, em média.

Os investigadores indicam também que 37% dos doentes internados com depressão apresentavam outras doenças do foro psiquiátrico, incluindo, por exemplo, perturbação de ansiedade, perturbação da personalidade e abuso de substâncias (sobretudo álcool).

“As hospitalizações surgem como um indicador importante do tratamento da depressão e estão frequentemente reservadas a doentes com formas graves da doença, nomeadamente perante uma crise suicidária, quando o contexto socio familiar não é considerado contentor, ou como uma última linha de tratamento”, explica Manuel Gonçalves Pinho, médico e investigador da FMUP.

De acordo com os autores, esta realidade vem “reforçar a necessidade de um maior investimento quer nos cuidados de saúde mental prestados aos doentes na comunidade, quer na disponibilização de apoio psicoterapêutico, reintegração social/funcional e implementação de novos tratamentos psicofarmacológicos, sendo que estas estratégias em conjunto poderão conduzir a uma diminuição do número de hospitalizações”.

Assim, concluem, “os clínicos e os decisores políticos poderão usar estes resultados para melhor conhecer esta população e definir de forma mais adequada estratégias de prevenção de doença e promoção de saúde mental”.

Caraterizada por uma alteração do humor com predomínio de sentimentos de tristeza, menos-valia e falta de motivação, a depressão pode cursar com sensação de fadiga e irritabilidade, alterações do sono e apetite. Perante estes sintomas, a procura de ajuda junto de profissionais de saúde permite um tratamento otimizado e adequado ao doente.

O estudo em questão é assinado pelos investigadores da FMUP e do CINTESIS Manuel Gonçalves Pinho, Lia Fernandes e Alberto Freitas, e João Pedro Ribeiro, do CHTS.