Um estudo conduzido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) demonstrou que os espaços verdes podem ter um papel importante na proteção contra o desenvolvimento de asma e doenças alérgicas na infância.

A investigação, publicada na revista Allergy, constatou que as crianças que, desde o nascimento, vivem em zonas mais próximas a áreas e espaços verdes, apresentam menos rinite alérgica e asma, aos 7 anos de idade. Percebeu-se também que a exposição, desde idades precoces, a um elevado número de espécies animais não exerce o mesmo efeito protetor.

Vários estudos já publicados têm apresentado resultados contraditórios quanto à influência dos espaços verdes no desenvolvimento de doenças alérgicas e asma. Há artigos que demonstram haver um efeito protetor e outros que consideram que a exposição a estes espaços é, na verdade, um fator de risco.

Com o objetivo de esclarecer a questão, os investigadores do ISPUP procuraram avaliar o efeito da exposição precoce a áreas verdes no desenvolvimento de doenças alérgicas e asma, em crianças, usando para tal uma amostra de 1050 crianças do Município do Porto, pertencentes ao estudo longitudinal Geração XXI.

Foi analisado o ambiente ao redor das habitações das crianças, considerando os espaços verdes existentes e a sua proximidade às casas dos participantes no estudo.

Além disso, teve-se em consideração o índice de riqueza de espécies (o qual indica o número de diferentes espécies animais presente num determinado espaço) nas áreas verdes, localizadas perto das residências das crianças. O objetivo era perceber se o contacto com uma maior riqueza de espécies poderia ter também um efeito protetor contra o desenvolvimento das patologias enunciadas, algo que “nunca tinha sido estudado até à data”, indica João Rufo, primeiro autor da investigação, coordenada por Ana Isabel Ribeiro.

Através da aplicação de questionários aos participantes, os investigadores perceberam se, aos 4 e aos 7 anos de idade, as crianças já tinham historial de doenças alérgicas e asma.

E concluiu-se que…

As crianças do Município do Porto que, desde o nascimento, estiveram mais próximas de espaços verdes apresentaram menos doenças alérgicas, nomeadamente, rinite alérgica, e asma, aos 7 anos. Segundo João Rufo, este resultado vem “corroborar os artigos que apontavam o efeito protetor das áreas verdes e demonstrar que estar em contacto com vegetação em meios urbanos é benéfico para a saúde”.

Contudo, e contrariamente ao esperado, uma maior proximidade a riqueza de espécies não se revelou protetor, tendo sido mesmo considerado um fator de risco. Observou-se que as crianças que tiveram um contacto mais próximo com um elevado número de espécies apresentaram uma maior sensibilização alérgica e, entre aquelas que já tinham asma e pieira, um agravamento destas patologias.

Umas das possíveis explicações para este resultado, poderá prender-se com a libertação de moléculas (alergéneos) por parte das espécies animais, que provocam, por sua vez, reações alérgicas no organismo humano, podendo exacerbar sintomas de alergia e asma que já tenham sido diagnosticados. No entanto, são necessários mais estudos sobre este tópico, dado que, “em oposição ao que encontrámos nestas crianças do Município do Porto, existem artigos que evidenciam um efeito benéfico da exposição a uma maior riqueza de espécies”, nota Rufo.

Mensagem de saúde pública

O estudo agora publicado veio comprovar “que os espaços verdes são benéficos para a saúde e que podem ajudar a prevenir a ocorrência de asma e de doenças alérgicas, como a rinite, nas crianças”, sublinha o investigador.

Desta forma, importa potenciar a sua utilização junto dos mais novos e também das mulheres grávidas, uma vez que o período perinatal (que abarca o momento da gestação até aos 2 anos de vida) é determinante para a prevenção destas patologias, que representam um elevado custo para o Serviço Nacional de Saúde.

Note-se que a rinite alérgica é das doenças alérgicas mais comuns entre a população portuguesa e que, na Região Norte de Portugal, a prevalência de asma varia entre os 6 e os 9%.

O projeto Exalar XXI

O artigo designado The neighbourhood natural environment is associated with asthma in children: a birth cohort study foi desenvolvido ao abrigo do projeto Exalar XXI, que está a estudar a relação entre o ambiente urbano e as doenças alérgicas e asma em crianças, usando para tal conhecimentos de geografia, biologia, medicina e das ciências do ambiente.

O artigo do ISPUP, encontra-se disponível aqui, e é também assinado pelos investigadores Inês Paciência, Elaine Hoffimann, André Moreira e Henrique Barros.