O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, foram duas das figuras que passaram, na passada segunda-feira, 7 de setembro, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), para assinalar o regresso das reuniões conhecidas por juntar o poder político e especialistas para partilha de informações sobre a COVID-19. Sensivelmente dois meses após o último encontro, esta foi a primeira vez que a sessão foi transmitida em sinal aberto e que decorreu fora de Lisboa.

Ao longo de três horas, vários peritos apresentaram o ponto da situação epidemiológica em Portugal, numa altura em que o Governo está a preparar o regresso às aulas de milhares de alunos.

À entrada da FMUP, o primeiro-ministro falou aos jornalistas e revelou que o país se aproxima de um “momento crucial” no combate à pandemia de COVID-19. “Estamos a aproximar-nos do período outono/inverno, em que muitas das pessoas que estavam em férias vão regressar às suas atividades normais e onde vamos retomar a atividade letiva”.

Segundo António Costa, o “momento é crítico”, pois “aumentando o risco da atividade, o risco de contágio vai aumentar”. Daí “a necessidade de continuar com as medidas de distância física e higiene”.

Para António Costa, Portugal está prestes a entrar num “momento crucial” no combate à pandemia (Foto: FMUP)

Situação agravou-se desde agosto

Na primeira parte da sessão, especialistas da Direção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) apresentaram os números e gráficos mais recentes acerca da situação epidemiológica.

Entre os dias 17 e 30 de agosto, registaram-se 3909 novos casos de Covid-19, “o que parece ser uma trajetória em crescendo”, afirmou Pedro Pinto Leite (DGS). Na FMUP, o especialista revelou que a faixa etária entre os 20 e os 29 anos apresenta uma “maior incidência ao longo do tempo” e que as conhecidas medidas de higiene devem ser reforçadas por todos.

Já de acordo com os números apresentados por Ausenda Machado (INSA), Portugal tem realizado, desde junho, mais de 80 mil testes de diagnóstico de infeção por SARS-CoV-2 por semana. Na mesma intervenção, foi anunciado que o R(t) – número de pessoas que um infetado contagia – tem aumentado e está agora em 1,12.

Ana Paula Rodrigues (INSA) deu conta dos resultados do inquérito serológico nacional e Henrique Barros, diretor do Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP), apresentou o estudo caso-controlo, que pretende “identificar fatores de risco de infeção por SARS-CoV-2” na região de Lisboa e Vale do Tejo, bem como “estimar o contributo relativo desses fatores na dinâmica da pandemia”.

O regresso às aulas

A segunda parte da reunião que decorreu na FMUP foi dedicada ao regresso às aulas. Na primeira intervenção, a médica Maria João Brito, do Hospital Dona Estefânia, indicou que o modelo de transmissão da SARS-CoV2 não será igual ao da gripe, o que pode ser “reconfortante na decisão da reabertura das escolas”.

Já na opinião de Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública, “com medidas adequadas de distância física e higiene, as escolas provavelmente não serão ambientes de propagação mais graves”.

Outro dos especialistas a participar na reunião, ainda que à distância, foi Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O epidemiologista admitiu que “a reabertura das escolas tem propensão para originar uma segunda onda”. No entanto, acredita que esta “não é uma fatalidade”.

“É exigente, mas é possível evitar a segunda onda, se conseguirmos que os contactos dos jovens sejam reduzidos entre 30 a 50% do que havia na era pré-COVID-19”, afirmou.

Em termos práticos, Carmo Gomes defende que é preciso reduzir o número de contactos de proximidade (distanciamento físico, teletrabalho, evicção de não coabitantes e ventilação de salas de aula e espaços partilhados). Do mesmo modo, entende que terá de ser reduzido o risco de contágio, o que deverá obrigar a medidas ao reforço da testagem, rastreio e isolamento, ao reforço das equipas de Saúde Pública e à intervenção de equipas móveis.

A reunião decorreu no auditório da Faculdade de Medicina da U.Porto. (Foto: FMUP)

176 vacinas em desenvolvimento

Nesta reunião na FMUP, Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, mostrou-se confiante em relação à nova vacina contra a COVID-19. “Os dados preliminares são bastante promissores”, afirmou o responsável, que falou sobre o processo de aquisição que decorre a nível europeu. O objetivo é garantir o acesso uniforme a todos os Estados-Membros e assegurar um portfólio de vacinas com base em aspetos como os volumes, os prazos de disponibilização e os custos.

Atualmente, disse, existem 176 vacinas em desenvolvimento, das quais 33 estão em fase de avaliação clínica em humanos e oito estão em fase 3 (fase prévia à apresentação às autoridades para autorização).

O inquérito serológico e a app de rastreio

Durante a reunião, foram também apresentados dados sobre a STAYAWAY COVID, aplicação portuguesa desenvolvida pelo INESC TEC e pelo ISPUP. Neste momento, mais de 660 mil portugueses já fizeram download da app. José Manuel Mendonça, presidente do conselho de administração do INESC TEC, referiu, durante a apresentação, a importância de existir uma interoperabilidade europeia neste tipo de aplicações, o que “ajudará a mobilidade e confiança”.

A reunião contou ainda com a presença do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, da ministra da Saúde, Marta Temido, da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e do diretor da FMUP, Altamiro da Costa Pereira, entre outros.