Um estudo conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que não existe uma ligação direta entre as infeções por SARS-CoV-2 e a proximidade a linhas de comboio, na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Em vez disso, as condições socioeconómicas das freguesias parecem ser o fator mais determinante para o risco de contágio.

A investigação foi conduzida entre os dias 2 de maio e 5 de julho e incidiu sobre o número de infeções ocorridas nas freguesias da AML atravessadas pelas linhas ferroviárias de Azambuja, Sintra, Cascais, Sul (Fertagus), Sado e Oeste.

O objetivo era “perceber qual a relação entre as freguesias mais próximas a estações ferroviárias e o aumento de infeções por SARS-CoV-2, o vírus causador da doença COVID-19”, explica Milton Severo, primeiro autor do estudo, coordenado por Teresa Leão e Henrique Barros.

“Apesar de termos visto um aumento de casos, por exemplo, nas freguesias atravessadas pela linha de Sintra, tal não foi comum às que eram atravessadas por outras linhas, pelo que não é possível estabelecer uma associação. Percebemos que não existe uma ligação homogénea entre a proximidade a estações de comboio e o aumento do risco de transmissão da doença. Contudo, não podemos dizer que não possa haver contágio dentro dos comboios”, frisa Milton Severo.

O estudo demonstrou que o risco de infeção nas freguesias mais próximas das linhas ferroviárias estava ao mesmo nível do risco de infeção das freguesias mais afastadas das estações de comboio.

Condições socioeconómicas e o risco de contágio

Apesar de não terem conduzido o estudo com esse fim, os investigadores constataram que, a partir do mês de abril, o fator mais determinante para o risco de contágio eram as condições socioeconómicas das freguesias.

“A partir do mês de abril, percebemos que as freguesias com maior privação socioeconómica apresentaram um risco superior de infeção, pelo que as condições socioeconómicas dos locais parecem explicar melhor o aumento do risco de contágios”, aponta.

No estudo intitulado Urban rail transport and SARS-CoV-2 infections: an ecological study in Lisbon Metropolitan Area participaram também as investigadoras Ana Isabel Ribeiro e Raquel Lucas.

O trabalho está público e pode ser consultado aqui.