Uma equipa de Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) descobriu um mecanismo que pode explicar o motivo pelo qual a infeção por SARS-CoV-2 – responsável pela COVID-19 – causa doença leve ou mesmo assintomática em alguns indivíduos e doença grave e complicada noutros. Os resultados deste estudo, financiado pela FCT no âmbito da iniciativa «Research 4Covid», foram publicados na prestigiada revista The Journal of Immunology (The JI), pertencente à Associação Americana de Imunologistas, e o artigo foi destacado pela revista como um TOP READER da edição de Setembro de 2021.

Este estudo, liderado pela investigadora Salomé Pinho, contou com a colaboração do Centro Hospitalar Universitário do Porto e do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, e mostrou que as células T circulantes “trocam” os seus glicanos (moléculas de açúcar) de forma específica após a infeção com SARS-CoV-2 e que essa alteração é mais pronunciada em indivíduos assintomáticos do que em sintomáticos. Está assim identificada uma resposta imunológica, baseada em formas glicosiladas de linfócitos T, que confere proteção contra o vírus.

Os cientistas demonstraram que “essa mudança no perfil de glicosilação na resposta imunológica por linfócitos após infeção por SARS-CoV-2, parece ser desencadeada por um fator inflamatório presente no plasma dos indivíduos”. Esta glico-assinatura específica de células T, que é mais pronunciada em pacientes assintomáticos, “pode ser detetada no diagnóstico”, o que significa que pode constituir um novo biomarcador de prognóstico e de gravidade da COVID-19, bem como um novo alvo terapêutico», explica Salomé Pinho, líder do grupo “Immunology, Cancer & GlycoMedicine” do i3S.

“Novas oportunidades” para o estudo de outras doenças

A equipa também demonstrou que células mononucleares do sangue, em doentes assintomáticos, exibem uma expressão aumentada de uma proteína específica, capaz de reconhecer eficientemente o vírus e cujos níveis de expressão em monócitos (células inflamatórias que pertencem à primeira linha de defesa-resposta inata) foram correlacionados com um melhor prognóstico do doente.

“É ainda importante salientar que este mecanismo que demonstramos estar associado à infeção por SARS-Cov-2, o chamado «glycan switch» dos linfócitos T, pode estar igualmente associado a outro tipo de infeções víricas respiratórias, o que abre novas oportunidades de investigação noutras doenças infecciosas”, acrescentam Inês Alves e Manuel Vicente, primeiros autores do estudo.

O papel das células T na resolução ou exacerbação de COVID-19, bem como o seu potencial para fornecer proteção a longo prazo contra re-infeção por SARS-CoV-2, ainda está por desvendar na sua totalidade. Este estudo destaca, porém, a importância da resposta imunológica mediada por células T à infeção por SARS-CoV-2.